“Percebemos hoje que aquele negócio que cresceu à sombra do desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde, porque foi quando se começou a desinvestir no SNS que começou a nascer e a proliferar o negócio privado da doença, percebermos hoje que na hora do aperto, esses, os grupos económicos que fazem esse negócio, põem-se ao fresco”, afirmou.

O candidato apoiado pelo PCP iniciou o segundo dia oficial da campanha para as presidenciais em Santiago do Cacém, no distrito de Setúbal, com uma sessão pública no auditório António Chainho, com 242 lugares e onde estavam pouco mais de meia centena de pessoas no público.

Durante a sua intervenção, o eurodeputado sublinhou que as entidades privadas de saúde “desertaram do combate no momento mais difícil”, assim “como desertam de tudo aquilo que não lhes assegure perspetivas de lucro”.

Por outro lado, elogiou o Serviço Nacional de Saúde, “que mesmo com o desinvestimento de que foi sendo alvo, está a revelar-se essencial para, numa altura tão difícil e tão exigente, proteger a saúde dos portugueses”.

Ainda abordando a área da saúde, João Ferreira aproveitou para lamentar a desvalorização da produção nacional, dando o exemplo de “setores da indústria de ponta”, como a produção de medicamentos e vacinas e ilustrando essa ideia com o caso alemão.

Lembrando que na origem das vacinas criadas na Alemanha esteve tecnologia desenvolvida por cientistas portugueses, o eurodeputado considerou que seria importante que, “para além da tecnologia que lhe deu origem, pudessem estar as fases subsequentes de desenvolvimento dessa vacina”.

Se assim fosse, referiu, Portugal estaria “em condições de fazer hoje aquilo que a Alemanha está a fazer neste momento”, porque “já encomendou a essa empresa mais vacinas até do que aquelas que lhe caberia por via do mecanismo de distribuição criado ao nível da União Europeia”.

Para João Ferreira, este exemplo demonstra a importância de o país “não desaproveitar os seus recursos e potencialidades e não desvalorizar a produção nacional”, pois “só produzindo mais” é que o país poderá “dever menos ao exterior”.

Respondendo a uma questão do público sobre o desinvestimento no SNS, o candidato considerou ainda que “não há valorização do SNS sem valorizar os profissionais”, frisando que não basta “bater-lhes palmas” e que os trabalhadores da área da Saúde “não têm sido valorizados e cuidados”.

Ao final da tarde, o candidato apoiado pelo PCP participa numa sessão sob o tema "Direito ao trabalho e ao trabalho com direitos. Defender a Constituição", na Casa do Alentejo, em Lisboa.

À noite estará presente na iniciativa “Um horizonte de Esperança para a Cultura”, também em Lisboa.

A primeira campanha realizada em Portugal em estado de emergência arrancou oficialmente no domingo, sob a ameaça de um novo confinamento e com as estruturas a adaptarem as suas agendas às restrições impostas pela pandemia de covid-19.

As eleições presidenciais estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.

Além de João Ferreira (PCP e PEV), concorrem a estas eleições seis candidatos: Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS/PP), Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).