Os premiados são Andreia Pereira, Daniela Freitas e Mariana Osswald, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, Pedro Marques, do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e Sara Silva Pereira, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, também em Lisboa.

Promovido pela Ordem dos Médicos e pela Fundação Bial, o prémio, instituído este ano pela primeira vez, homenageia a médica e imunologista Maria de Sousa, que morreu em 2020, aos 80 anos, com covid-19, e visa apoiar cientistas portugueses até aos 35 anos em trabalhos na área das ciências da saúde.

A equipa de Andreia Pereira, do i3S, vai procurar obter uma “fonte de energia inesgotável” que possa ser usada nos dispositivos cardiovasculares em alternativa às pilhas convencionais e novos métodos de deteção precoce de obstrução de vasos sanguíneos, segundo a descrição do projeto.

A investigadora Daniela Freitas, também do i3S, pretende, por sua vez, “encontrar novos biomarcadores para o cancro do estômago”, frequentemente detetado em fases avançadas dificultando a eficácia do tratamento, bem como “novos potenciais alvos terapêuticos”.

Para tal, vai estudar o papel dos glicanos – “estruturas de hidratos de carbono complexas” – alterados no cancro do estômago “na comunicação e reprogramação celular”.

Morreu a imunologista Maria de Sousa, vítima de COVID-19
Francisco Pinto Balsemão, Mário Soares e a investigadora Maria de Sousa conversam antes do anúncio do vencedor do Prémio Pessoa 2013, num hotel, em Sintra créditos: MIGUEL A. LOPES/LUSA

O grupo de investigação de Mariana Osswald propõe-se estudar como os epitélios, tecidos constituídos por células que revestem a pele e as mucosas e que formam uma barreira protetora, “balanceiam forças para manterem a sua forma, integridade e funcionalidade”.

Perturbações na estrutura destes tecidos estão associadas a doenças inflamatórias e ao cancro.

A investigadora do i3S vai focar-se na “organização de uma das principais estruturas das células responsável por regular forças”, a actomiosina, uma “rede dinâmica de proteínas que controla a forma e as propriedades mecânicas das células”.

Mariana Osswald quer perceber como é que a actomiosina é regulada e como é que alterações na actomiosina afetam o equilíbrio de forças num epitélio.

O trabalho de Pedro Marques, endocrinologista e investigador no Hospital de Santa Maria, visa “identificar novos biomarcadores úteis para o diagnóstico” de adenomas hipofisários, tumores benignos da hipófise, uma glândula localizada na base do crânio que controla a maior parte da atividade hormonal.

Os adenomas hipofisários “podem originar vários problemas de saúde relacionados com o excesso de produção ou défice de hormonas hipofisárias” ou criar danos em estruturas próximas da hipófise, como os nervos óticos, responsáveis pela visão.

Além de melhorar o diagnóstico destes tumores, a equipa de Pedro Marques propõe-se “delinear novos alvos terapêuticos, assim como novas formas de tratamento no domínio da imunoterapia para doentes com adenomas hipofisários mais agressivos e resistentes às terapêuticas convencionais”, incluindo a cirurgia e a radioterapia.

Na sua investigação, Pedro Marques vai estudar em particular a interação entre as quimiocinas, substâncias produzidas e libertadas pelas células tumorais, e as células imunitárias e “identificar mecanismos através dos quais esta interação possa promover o crescimento e agressividade tumorais”.

Sara Silva Pereira, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, pretende saber quais são as proteínas da superfície do parasita ‘Trypanosoma congolense’, “mais problemático” em África e transmitido aos animais pela picada da mosca tsé-tsé, que permitem que se agarre aos vasos sanguíneos e qual a relação entre estas proteínas e a severidade da nagana, doença que afeta mortalmente o gado, causando elevados prejuízos económicos.

A investigadora espera identificar genes que sejam biomarcadores da doença grave que “possam ser utilizados num dispositivo de diagnóstico portátil para rastrear gado em larga escala e informar a comunidade sobre a virulência das estirpes em circulação e o risco de doença grave”.

O júri da primeira edição do Prémio Maria de Sousa, financiado pela Fundação Bial, foi presidido pelo neurocientista Rui Costa.