Lembram-se do efeito borboleta? Aquele que, segundo a cultura popular, defendia que o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, quem sabe, provocar um tufão do outro lado do mundo. A minha questão é: o que é que aconteceu no outro canto do planeta para a repercussão ser tão forte deste lado?

É normal que existam dias em que nos apeteça pedir ao mundo para parar porque queremos sair. Se me despedisse do mundo, muito provavelmente enviaria o currículo para a TAP. É que tenho de começar a pensar no meu futuro e, sendo a reforma cada vez menos um dado adquirido, convém ir poupando nos prémios de mérito.

Com que cara é que estes trabalhadores chegam a casa e dizem à família que houve quem recebesse quase quatro vezes mais do que eles?

Vêem melhor empresa para me candidatar do que uma em que a sua Comissão Executiva atribui 1,171 milhões de euros em prémios? Calma, não foi a muita gente, foi só a 180 trabalhadores, oscilando as recompensas entre os 110 mil e pouco mais de mil euros. Percebo que se estejam a questionar do porquê de não ter sido atribuído a todos os funcionários, mas a resposta é óbvia: encarecia muito, dado que a seguir aos prémios mais elevados, os de 110 mil euros, está um valor de mais de 88 mil euros, um de mais de 49 mil euros e outro de 42 mil. Os restantes valores são mais irrisórios, tendo em conta que são todos iguais ou inferiores a 30 mil euros. Uma falta de respeito, portanto.

Há quem alegue que esta atitude vai lançar a desigualdade entre os trabalhadores pela falta de equidade, porque só alguns foram escolhidos, o que me parece redutor dado que ninguém se preocupou com quem apenas recebeu 30 mil euros. Com que cara é que estes trabalhadores chegam a casa e dizem à família que houve quem recebesse quase quatro vezes mais do que eles? Os que não foram escolhidos sabem, pelo menos, que esses prémios existem e que para o ano podem vir a ter essa oportunidade. E é sabido que quem dá uma oportunidade, dá tudo. Os que receberam 30 mil euros, muito provavelmente recusarão o prémio no ano seguinte, para não terem de passar novamente pelo vexame de serem os que receberam menos. É que, pior do que não ser reconhecido é ser desprestigiado e disso ninguém quer falar. Poderão cair no facilitismo de pensar que a redistribuição poderia ser outra, é certo. Mas só agravaria o problema, porque quem recebeu 30 mil euros ainda receberia menos e o ultraje seria maior.

Percebo agora que o vídeo em que foi filmado numa orgia já seria campanha eleitoral e que já mostrava grandes capacidades de liderança

Segundo noticiaram vários órgãos de comunicação social, este caso levou a que os membros da administração da TAP tivessem sido nomeados pelo Estado a convocar uma reunião extraordinária para analisar esta decisão o que, segundo uma fonte próxima, os terá deixado "bastante incomodados". O que é compreensível, já que não vejo pior cenário do que ser impossibilitado de gastar uma remuneração pela chatice de uma reunião que questiona um prémio que premeia a meritocracia. É, no mínimo, revoltante.

Talvez tenha contribuído para este alarido o facto de o grupo TAP ter registado um prejuízo de 118 milhões de euros, no mesmo ano em que premeia alguns funcionários com prémios no valor de 1,171 milhões de euros. Acho muito bem, até. Se fizermos um paralelismo com os nossos bolsos através de uma regra de três simples, percebemos que num prejuízo de 118 milhões de euros, dar um prémio de 1,171 milhões é o mesmo que eu dever 10 euros e ainda me endividar em 10 cêntimos. Uma chicla, pelos meus cálculos.

É por estas e por outras que o país precisa de uma mão política mais apertada. Talvez por isso tenhamos sabido recentemente que José Castelo Branco se vai candidatar às eleições legislativas, pelo MJP - Movimento da Justiça Portuguesa (como se o país já não tivesse problemas suficientes). Percebo agora que o vídeo em que foi filmado numa orgia já seria campanha eleitoral e que já mostrava grandes capacidades de liderança. A história mostra-nos que estas candidaturas costumam ser casos de sucesso, basta lembrarmo-nos da deputada Cicciolina ou do deputado Alexandre Frota. O certo é que o Conde já está um passo à frente porque, se consegue ressuscitar a Betty, estão reunidas as condições para acordar o país.

Se ele for perspicaz, chama para o seu partido os membros da administração da TAP. Já imaginaram a dívida pública a aumentar e atribuirem-nos milhões em prémios de mérito?