Em declarações à agência Lusa, a presidente da APECS, Teresa Branco, sublinhou a necessidade de refletir sobre os dados que existem para se poder perceber a infeção e qual a fundamentação das opções que terão de ser tomadas em cada área, desde o seguimento até à prevenção.
O Observatório Nacional Para a Infeção VIH reunirá “pessoas dedicadas à infeção por VIH, pessoas com experiência na área ou com competências na área e baseia-se na necessidade que temos de ter uma análise que seja rigorosa e independente em relação à evolução sobre a infeção por VIH em Portugal”, explicou.
António Diniz, que foi diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/SIDA e é vice-presidente da APECS, José Vera, da Sociedade Portuguesa de Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica, Ana Escoval, administradora do Hospital de Santa Maria, António Vaz Carneiro, diretor do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, e Ana Paula Martins, bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, são algumas das personalidades que vão integrar o observatório.
Teresa Branco, que é especialista em Medicina Interna no Hospital Fernando da Fonseca, sublinhou a importância de, mesmo com os recursos que existem, ter uma visão multidisciplinar e um modelo de gestão da infeção centrado nas pessoas infetadas.
“Um modelo de gestão desta infeção – que agora é uma doença crónica – centrado nas pessoas infetadas, coordenando o que temos de serviços de saúde, é fundamental. É um esforço que teremos todos de fazer”, afirmou a especialista, destacando a necessidade de integrar os cuidados de forma a conseguir acompanhar as pessoas infetadas.
O Observatório Nacional para a Infeção VIH vai ser apresentado no sábado, na Reunião de Outono da APECS, que decorre na Universidade Nova (Nova School Business and Economics), em Carcavelos, durante a qual será igualmente anunciado o vencedor da Bolsa de Investigação na Infeção por VIH, prémio que junta a APECS e a Gilead.
Esta bolsa, que homenageia o virologista português recentemente falecido Ricardo Camacho, será atribuída ao projeto “Construção de uma base de dados sócio-demográficos, clínicos e genómicos para estudar a epidemia do VIH em Portugal”, de Ana Abecassis.
“Tudo o que estamos a fazer são as bases, a sustentação daquilo que precisamos de fazer no futuro e é exatamente esse o título da Reunião de Outono — ‘Preparar o Futuro'”, afirmou Teresa Branco.
A presidente da APECS destacou ainda que esta é já uma doença crónica “com características muito específicas” e que, por isso, é preciso “organizar e refletir qual é a melhor maneira de manter as pessoas em seguimento ao longo de dezenas de anos”.
“Não é fácil nas outras doenças crónicas e nesta, em particular, que lida ainda com o problema do estigma e da discriminação, temos de refletir ainda melhor sobre qual é a forma de conseguirmos estes nossos objetivos”, acrescentou.
A especialista destacou ainda, a este respeito, os critérios de qualidade na prestação dos cuidados de saúde: “Não podemos ter pessoas a serem tratadas de forma diferente por estarem a viver em Lisboa ou fora de Lisboa. É muito importante termos critérios mínimos de qualidade para que se possa ter equidade nesta prestação de cuidados de saúde”.
“Temos de tentar poupar no seguimento. É essa criação de centros onde esteja garantido um acompanhamento de saúde e não o acompanhamento de uma infeção, porque agora isto já não é uma infeção, é uma doença crónica, que está controlada com tratamento”, disse Teresa Branco, sublinhando que o que é difícil é “conseguir o envolvimento das pessoas infetadas, para que percebam a doença e as necessidades, envolvendo também a comunidade e os representantes da sociedade civil”.
A APECS, fundada em 1991, é uma associação científica sem fins lucrativos que tem por objetivo contribuir para a investigação clínica, laboratorial e epidemiológica da infeção por VIH.
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