Em uma época caracterizada pela evolução acelerada das tecnologias, a Inteligência Artificial (IA) surge como um divisor de águas no setor da saúde. Como especialista de sistemas de informação de saúde e gestor de serviços, observo este fenómeno com uma mistura de exaltação, surpresa, mas também de apreensão. A IA ainda antes de ser regulada já está a revolucionar os cuidados de saúde apoiando diagnósticos precisos e induzindo na organização mais eficiência operacional. É prematuro afirmar que esta IA seja altamente eficaz, pois está em operação há pouco mais de dois anos, o que indicia ainda um estadio prematuro na sua maturidade. Este agente que dialoga em linguagem natural com os humanos, é rápido, produtivo, informado e cordial mesmo quando parece que “mente descaradamente”. A verdade é que se abriu ao mesmo tempo um abismo repleto de dilemas éticos, desafios de privacidade onde muitos acreditam que está ameaçada a desumanização dos cuidados. Esta curta reflexão visa desmistificar, se é que é possível, esse tom, ainda não totalmente explorado, destacando algumas transformações incríveis que testemunhamos, mas também acendendo um farol de alerta para os riscos que se escondem nas sombras desta luminosa era.
Em novembro de 2022, lançado pela OpenAI o mundo acordou com uma “linha de comando”, designada de chatgpt, com a simplicidade de um google search mas que nos responde em linguagem natural como se de um humano se tratasse. E na grande maioria das vezes com respostas que ultrapassam as melhores expetativas. Esta AI moderna que chegou a casa de todos, sobre as primeiras referências: OpenAI; Google Bard e Microsoft Bing, ficou disponível a todos independentemente da classe económica, profissional e idade, comunicando por texto, voz e imagens sendo hoje das tecnologias com a maior índice de evolução. As razões do seu “cósmico” potencial são fruto da capacidade atual de processamento de dados dos computadores de nova geração associados à disponibilidade no tratamento de grandes conjuntos de dados/parâmetros. Culminando assim, num novo universo na interação homem/máquina.
Acontece que, a tecnologia mesmo sem tempo de maturação ou treino exclusivo para o âmbito da saúde, já entrou no sector e é amplamente aplicada em hospitais e clínicas revolucionando a forma como cuidamos dos doentes. A virtude mais comummente utilizada é a automatização de tarefas de rotina e repetitivas, que libertam os profissionais dessa carga, permitindo que se concentrem em aspetos mais especializados e complexos nos cuidados dos doentes. Mas também outras atividades de maior complexidade e risco já estão na linha da experimentação, onde estes agentes de modelos de linguagem alargada estão a revolucionar a medicina, com avanços significativos em diversas áreas nomeadamente na melhoria do diagnóstico médico. A capacidade da análise de imagens médicas por exemplo, como raios-X, tomografias e ressonâncias magnéticas, demonstram uma precisão por vezes bem superior à dos médicos humanos, e com estudos já comprovados. Ou seja, a tecnologia não só identifica padrões que podem ser impercetíveis ao olho humano, como também agiliza o processo, contribuindo para diagnósticos mais rápidos e precisos. Outro avanço importante tem sido a personalização dos tratamentos com capacidades de analisar uma vasta quantidade de dados médicos de cada paciente, incluindo seu histórico clínico e genético.
Em resumo, a integração da IA no setor da saúde não só aprimora a qualidade do diagnóstico e do tratamento, mas também otimiza as operações, permitindo uma abordagem mais focada e personalizada nos cuidados de saúde. Já se pode prever que seja utilizada para o desenvolvimento de novos tratamentos e curas para doenças, como o cancro, a diabetes e a Alzheimer, a identificação de fatores de risco para doenças e o desenvolvimento de estratégias de prevenção ou até ser empregue na criação de sistemas de saúde personalizados que atendam às necessidades individuais de cada pessoa. Porém, reconhecem-se os riscos e a necessidade de regulação de uma tecnologia que surpreende até quem a desenvolveu, transparecendo a ideia de estarmos a lidar com um agente que tem vida própria. E por isso, diariamente quanto mais intimidante se revelam as suas capacidades, mais auspicioso se afigura a capacidade que terá amanhã. Assim, torna-se imperativo que as nações colaborem ativamente para estabelecer diretrizes rigorosas, protocolos de segurança robustos e estratégias de supervisão eficazes. Esta ação coordenada é crucial para garantir que o uso da IA na saúde seja orientado pelo princípio da beneficência, procurando sempre maximizar os benefícios terapêuticos e minimizar os riscos para os pacientes. Ao domar a “fera”, podemos assegurar que a sua aplicação no setor da saúde seja realizada de forma ética, responsável e, acima de tudo, segura, contribuindo assim para o avanço sustentável e seguro das tecnologias da saúde.
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