Missouri, Estados Unidos. Brryan Jackson está nervoso, escreve a BBC. É retirado da barulhenta sala de espera da prisão, com alarmes e portas metálicas, e levado para um silencioso tribunal de paredes brancas. Do outro lado da sala, um prisioneiro aguarda-o. Os dois não voltaram a ver-se desde que Brryan Jackson era uma criança. O prisioneiro é Bryan Stewart, o seu pai.
Brryan Jackson está ali para ler uma declaração que espera ser suficiente para garantir que o pai fique atrás das grades mais tempo. São, contudo, palavras que poucos acreditavam ser possíveis de dizer quando, em 1992, foi diagnosticado com VIH/Sida e mandado de volta para casa para poder morrer em paz ao lado da família.
Com uma única folha de papel nas mãos, Jackson posiciona-se calmamente ao lado da mãe, a cinco cadeiras de distância do pai. "Tentei olhar sempre para a frente. Não queria ter contacto visual com ele", diz Jackson.
Ainda assim, conseguia vê-lo através da visão periférica. "Reconheci-o pela foto de quando foi preso, mas não temos nenhuma ligação. Não o reconheço como pai", afirma. "Eu não sou o seu filho, sou a sua vítima", acrescentou.
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O conselho de avaliação de pedidos de liberdade condicional de uma prisão federal do Missouri chamou Brryan Jackson para que ele se manifestasse em voz alta, na sequência do pedido da revisão da sentença pedida pelo progenitor.
No tribunal, Jackson hesita. "Naquele momento, perguntei-me se estaria a fazer a coisa certa, mas a minha mãe ensinou-me sempre a ser corajoso. Lembrei-me que Deus estava comigo. Qualquer que fosse o resultado da audiência, Deus é maior do que eu, do que o meu pai, do que aquela sala do Departamento de Justiça". Respira fundo, olha fixamente para os membros do conselho e começa a contar sua história.
Há 25 anos
Ainda não tinha um ano de vida quando o pai, para evitar pagar uma pensão de alimentos, injetou na corrente sanguínea de Brryan Jackson sangue infetado com o vírus do VIH/Sida. Hoje, com 25 anos, este jovem norte-americano dá palestras de motivação pessoal e criou uma ONG.
Aos 11 meses, Brryan Jackson foi internado com sintomas de asma. Estaria infetado, mas só cinco anos depois foi diagnosticado com o vírus. Estava com febre alta e fungos debaixo das unhas. O quadro clínico da criança de cinco anos, internada num hospital de St. Louis, nos Estados Unidos, sugeria um alto risco de vida. Os médicos fizeram-lhe um exame sanguíneo e descobriram que Brryan Jackson tinha o vírus do VIH/Sida. Deram-lhe cinco meses de vida.
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"A minha mãe tinha um filho de um relacionamento anterior quando conheceu o meu pai e ambos decidiram ter uma nova criança. Mas quando ele voltou da Primeira Guerra do Golfo (em 1991, quando serviu como soldado), as suas atitudes em relação a mim tinham mudado completamente. Ele começou a dizer que eu não era filho dele", recorda Brryan Jackson.
Brryan Jackson tem a doença hoje a doença sob controlo. Dá palestras de motivação e criou a Organização Não Governamental Living With Hope - Viver Com Esperança, em tradução livre do inglês-, para promover mais solidariedade em relação aos portadores do vírus.
A doença e a medicação afetaram-lhe a audição de forma severa e prejudicou-lhe a fala. Dos 23 comprimidos diários que tomava, hoje são apenas um medicamento antirretroviral, para manter a carga viral do VIH baixa.
"Não era convidado para festas de aniversário. As outras crianças insultavam-me. Mas essa era a realidade do VIH nos Estados Unidos nos anos 90. Havia desinformação. Comecei a achar que não havia espaço para mim neste mundo", recorda. O pai de Brryan Jackson foi condenado em 1998 por este crime a prisão perpétua.
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