Mulheres transgénero podem receber transplante de útero e engravidar "já amanhã"

Richard Paulson, especialista em fertilidade e presidente da Sociedade Americana para a Medicina Reprodutiva, defende que não existem razões anatómicas nem científicas que impeçam o transplante de útero, nem uma gravidez com recurso a procriação medicamenta assitida numa mulher transgénero.

"Existiriam desafios adicionais, mas não vejo nenhum problema óbvio que o impeça. Pessoalmente, acho que vai haver mulheres transexuais a querer ter um útero e provavelmente vão fazer o transplante", afirmou o médico especialista na reunião anual da Sociedade Americana para a Medicina Reprodutiva, esta semana, em San António, no Texas (EUA).

Por isso, as mulheres transgénero que queiram, podem engravidar "já amanhã", enfatizou em entrevista ao jornal The Telegraph.

A notícia está a correr o mundo e a receber especial atenção mediática, com vários jornais e revistas, como a Newsweek, o Independent ou o The Times a debruçarem-se sobre tema. Ao The Times, Rebecca Flyckt, ginecologista e especialista em Endocrinologia, defende que a gravidez de alguém que nasceu fisiologicamente homem seria extremamente complicada, sendo que o bebé teria de nascer por cesariana.

"Embora teoricamente isto fosse possível, seria um procedimento cirúrgico e endocrinológico enorme que envolveria não só a criação de uma vagina, mas também a reconstrução cirúrgica de toda a pélvis", comenta a médica.

Suplementos hormonais

Por outro lado, a gestação implicaria a toma de suplementos hormonais para simular o processo hormonal da gravidez. "Depois deste procedimento e do transplante de um útero doado, seria necessário um regime complexo de hormonas que apoiassem a gravidez, antes e depois do transplante embrionário", que a especialista afirma ser semelhante ao tratamento hormonal dado a mulheres na menopausa, mas que poderia colocar o feto em risco.

Segundo o Washington Post, desde 1999, vários homens transgénero deram à luz filhos saudáveis. Mais recentemente, Trystan Reese, um homem transgénero e o seu parceiro Biff Chaplow, tiveram uma criança que nasceu sem qualquer problema de saúde.

Ainda assim, embora possa haver um "benefício psicológico" para a mãe que carrega o bebé, este tipo de tratamentos pode ter um efeito nocivo para "criança que nasce dessa maneira atípica", comentou Julian Savulescu, professor de ética na Universidade de Oxford, citado pelo jornal Independent.