15 de abril de 2013 - 17h02
O coordenador do Plano Nacional de Prevenção das Doenças Oncológicas afirmou hoje que Portugal tem um “número suficiente” de equipamentos de radioterapia, embora a estratégia sobre as necessidades de reequipamento no país vá ser avaliada em maio, como avançou.
“Em Portugal, o número total de aceleradores é superior aos quatro por milhão de habitantes, considerado o número necessário para prestar cuidados de qualidade a nível da União Europeia”, disse Nuno Miranda à Lusa.
Segundo o Jornal de Notícias, dois grupos de trabalho vão debruçar-se sobre o futuro da radioterapia, estando em cima da mesa algumas hipóteses, como “adotar um modelo mais concentrado ou misto, mantendo extensões destinadas a sessões rotineiras”.
Em 2008, um grupo de profissionais elaborou o documento o “Desenvolvimento estratégico da radioterapia em Portugal, para a próxima década”.
“Foi feito para um período de 10 anos e, estando no meio desse período, chegou a altura de o reavaliar” e verificar se as metas previstas foram cumpridas e se há necessidade de ser atualizado, explicou Nuno Miranda.
A estratégia visa assegurar aos doentes “um acesso adequado e equitativo” comparável aos países desenvolvidos da UE, propondo a expansão do “parque tecnológico da radioterapia”, baseada nas recomendações europeias, que têm em conta o aumento da incidência do cancro, a esperança de vida e a distribuição demográfica, propondo um ratio de seis aceleradores lineares, para tratamento do cancro, por milhão de habitantes.
Estudo fala em falta de equipamento
Um estudo divulgado em janeiro pela Lancet Oncology revela que Portugal tem um número de aceleradores por centro demasiado baixo. Os cientistas analisaram os 1.286 centros de radioterapia europeus registados na base de dados, gerida pela Agência Internacional da Energia Atómica.
A média destes países é de 2,6 aceleradores por centro, em Portugal é de 2,3. “Os países mais organizados têm valores entre os quatro/cinco”, adiantou.
Quanto ao número de doentes tratados, o “número ideal” é de 490 por cada acelerador e Portugal tem 530, disse Nuno Miranda, comentando: “Estamos muito bem no panorama europeu, melhor do que a Alemanha e ao nível da Áustria”.
“Não temos grandes défices em termos de radioterapia, temos é de planear o futuro, porque os equipamentos vão envelhecendo e é importante planear a sua substituição atempadamente”, sublinhou.
Enquanto especialista, defendeu que “há formas de organização de descentralização de serviços” com vantagens para os hospitais e doentes.
São “formas de organização por antenas em que um hospital grande tem antenas a fazer radioterapia fora do seu hospital”.
“A vantagem é utilizar os mesmos recursos técnicos, o mesmo sistema de planeamento, os mesmos físicos num único centro e, ao mesmo tempo, dar o tratamento ao doente mais perto do domicílio sem perder a capacidade científica”, justificou.
Contactado pela Lusa, o antigo presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos Jorge Espírito Santo defendeu a aplicação do documento de 2008, considerando que foi baseado em “considerações técnicas e de racionalidade de distribuição de equipamentos adequados”.
Espírito Santo manifestou-se contra a concentração de serviços: “O modelo de prestação de cuidados em oncologia em Portugal garante cuidados de qualidade, é muito barato e não vejo muito interesse em estar a fazer grandes mexidas ou arranjar centros de primeira ou de segunda”.
Lusa