De entre os médicos que fizeram um teste, mesmo assim cerca de 19% tiveram de esperar sete ou mais dias pela sua realização e 21% esperaram entre três e seis dias. Só 59% viram o procedimento concretizado em menos de três dias.

Perante a escassez ou inconsistência de dados partilhados pelas autoridades de saúde, a Ordem dos Médicos decidiu avançar com o inquérito “Identificação da exposição dos médicos ao SARS-CoV-2” para ficar a conhecer melhor a realidade no terreno. A recolha de dados decorreu entre os dias 8 e 14 de abril e contou com a resposta de 6613 médicos. Revelamos agora a análise dos dados preliminares deste inquérito.

"Os resultados que encontrámos com este trabalho exploratório vão ao encontro de uma das preocupações que temos vindo a manifestar. Muitos médicos não foram devidamente testados e isso sempre foi uma recomendação basilar da Ordem dos Médicos para garantimos a saúde e segurança dos nossos profissionais de saúde e doentes", explica o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

"Numa altura em que estamos progressivamente a alargar a atividade assistencial, tanto ao nível de consultas, como de cirurgias e de exames, é essencial que se testem todos os casos suspeitos de forma célere, mas também regularmente os profissionais de saúde", acrescenta.

Recorde-se que a própria orientação n.º 013/2020 de 21/03/2020, da Direção-Geral da Saúde, referente aos Profissionais de Saúde com Exposição a SARS-CoV-2, é muito restritiva em termos de testagem, estipulando que mesmo nos casos com alto risco de exposição só sejam encaminhados para exames laboratoriais os profissionais que desenvolvam sintomas.

Na altura que decorreu o inquérito, perto de 3% dos médicos que responderam estavam ou já tinham estado infetados pelo SARS-CoV-2. Cerca de 6% estavam também impedidos de trabalhar por diagnóstico positivo ou quarentena de qualquer tipologia (a aguardar teste, sem realização de teste ou sem sintomatologia, mas com contacto de risco).

As conclusões indicam que a anestesiologia, a medicina geral e familiar, a medicina interna e a pediatria foram as especialidades mais afetadas, representando 51% do total. Já os médicos internos representaram 8,2% do total.

"De início registámos vários problemas, sendo que nem todos foram corrigidos. Verificou-se uma grande escassez de equipamentos de proteção individual, sobretudo adequados à função de cada profissional, e também divulgação de informação clara sobre que materiais utilizar e quando. Isso traduziu-se, naturalmente, num número de infeções entre médicos superior ao que poderíamos ter tido. Não podemos correr o risco de não proteger a vida de quem cuida da vida dos doentes", reforça o bastonário.

Os números de casos positivos da COVID-19 entre os médicos seguem a tendência do país: 58,5% dos inquiridos que notificam estar com COVID-19 são da região Norte, seguindo-se a região Sul com 21,8% e a região Centro com 19,7%.