
Psiquiatra, Joaquim Cerejeira está na organização em Portugal de um congresso científico sobre delirium que durante dois dias (quinta e sexta-feira, em Vilamoura) junta médicos, enfermeiros, psicólogos e investigadores de mais de 20 países europeus, américa do norte e Austrália.
O responsável explica que é muito frequente que um idoso que seja internado com um problema como uma pneumonia ou uma infeção urinária (exemplos) desenvolva também sintomas psiquiátricos, como confusão e agitação. “Aparentemente não haveria razões para uma infeção urinária causar alterações psiquiátricas. É isso que tentamos avaliar porque não há uma resposta ainda, de qual a influência que uma disfunção no corpo tem no cérebro”, disse em entrevista à Lusa.
O problema, adiantou, “passa despercebido ou não é diagnosticado”, até porque os médicos que seguem o doente são de especialidades diferentes, da doença primária que está a ser tratada.
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“No entanto se ocorre um episódio de delirium, a doença que levou à hospitalização do doente pode complicar-se, pode aumentar o tempo de internamento, afetar irremediavelmente o doente, pelo que é preciso treino dos profissionais de saúde. No Reino Unido, por exemplo, já se avalia o estado mental do doente todos os dias”, defendeu o especialista.
Problema não afeta apenas idosos
Joaquim Cerejeira salientou que o problema não afeta apenas pessoas idosas, mas que “pode acontecer a qualquer pessoa em que a disfunção do corpo seja suficientemente grave para afetar o cérebro”.
E depois, acrescentou, os casos de delirium são frequentes em lares de idosos mas raramente diagnosticados, desvalorizando-se a “confusão” das pessoas, que de repente não sabem que dia da semana é por exemplo, atribuindo isso “à idade”.
O trabalho que há a fazer, diz, é sensibilizar os profissionais que cuidam dos doentes, para que se descubra a causa, seja uma infeção ou um medicamento.
“A cura é identificar a doença que está por trás. No fundo o delirium é o equivalente à febre”, no sentido de ser um aviso “de que algo não está bem”. “O problema é que a febre mede-se facilmente, o delirium não”.
A questão, a forma de melhorar o reconhecimento precoce do delirium, as novas terapêuticas, serão debatidas nos dois dias de trabalhos, promovidos pela Associação Europeia de Delirium, organizada pela Cérebro e Mente - Associação para o Desenvolvimento em Investigação em Saúde Mental.
O psiquiatra diz que o envelhecimento da população leva a um acréscimo das taxas de delirium, especialmente associado à demência, que “atinge atualmente 7,3 milhões de pessoas na Europa, e cuja prevalência duplicará em 2040”.
O ‘delirium’ surge de modo súbito caracteriza-se por perturbação da atenção e da consciência. O doente pode ficar confuso e desorientado (temporal e espacialmente), não se conseguir concentrar, perder a memória ou não reconhecer pessoas, ficar agitado ou letárgico e ter distúrbios de comportamento e humor.
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