Nos Estados Unidos, os canais de televisão estão repletos de anúncios a suplementos para homens de meia idade com baixos níveis de testosterona, a hormona produzida nos testículos responsável pelo desenvolvimento e manutenção das características masculinas normais.

Neste país, o marketing direto de medicamentos é permitido e as drogas são promovidas nas mais variadas formas. Desde 2001, as receitas de testosterona nos Estados Unidos para homens acima dos 40 anos triplicaram. Atualmente 1,7 milhão de homens são orientados para consumir suplementos hormonais.

Mas há realmente um problema a ser tratado?

Alguns médicos concordam que uma pequena proporção de homens (cerca de 0,5%) precisa de terapia com testosterona, como homens com doenças genéticas ou cujos testículos, onde a testosterona é produzida, não funcionam depois de tratamentos com quimioterapia. Para casos como estes, a Food and Drug Administration (FDA) autorizou a venda destes suplementos nos Estados Unidos.

Os níveis de testosterona nos homens tendem a cair constantemente depois dos 40 anos. "Em qualquer momento da vida, a testosterona diminui. Seja por doença ou qualquer outro motivo", explica o médico Richard Quinton, endocrinologista da Royal Victoria Infirmary, em Newcastle, Inglaterra, cita a BBC.

"Se ficar acordado a noite toda, no dia seguinte a testosterona diminui. Se comer demais, a mesma coisa", afirma.

Quinton é um dos vários especialistas que acreditam que o baixo nível de testosterona, referida pelos médicos como "hipogonadismo", não é uma razão para prescrever medicamentos na ausência de um problema físico observável ou de um diagnóstico clínico.

Risco de AVC

Um estudo publicado em novembro no Journal of American Medical Association analisou o histórico médico de 8,7 mil veteranos americanos, muitos deles com problemas cardíacos e todos com níveis de testosterona aparentemente baixos.

Os homens que haviam recebido tratamento com suplementos hormonais tiveram um risco 30% maior de derrame cerebral (AVC), ataque cardíaco e morte.

Um segundo estudo, publicado em janeiro no PLoS ONE, analisou os registos médicos de 55 mil homens a quem tinham sido prescrito testosterona. Os especialistas concluíram que os homens com mais de 65 anos ficaram com duas vezes mais hipóteses de sofrer um ataque cardíaco 90 dias depois de terem iniciado o tratamento.