9 de maio de 2013 - 09h55
A malária é a principal causa de morte entre os viajantes para zonas de risco, um dos motivos da atenção dada à doença pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), que tem quase um quinto dos seus doutorados dedicados ao tema.
"É talvez o nosso grupo de investigação com maior dimensão e foi o tema que mais atenção recebeu no Congresso [Nacional de Medicina Tropical] que acabou a 23 de abril", disse Paulo Ferrinho, em entrevista à Lusa.
No total, oito dos cerca de 50 doutorados do IHMT estão permanentemente dedicados ao estudo de questões relacionadas com a malária, mas o número de investigadores indiretamente ligados ao estudo da doença é muito mais vasto, adiantou o médico.
O IHMT não tem atualmente nenhum grupo diretamente envolvido na busca de uma vacina para a malária, estando os investigadores a estudar questões como mecanismos de resistência, genética populacional e suscetibilidade populacional ao paludismo, bem como os vetores (mosquitos que transmitem a doença).
Paulo Ferrinho admite que o paludismo, como também é conhecida a doença, "não é uma área em que se possam esperar grandes revelações de um momento para o outro", porque é uma doença sobre a qual se sabe muito.
"A grande revelação seria na questão da vacina, mas neste momento o importante é ir compreendendo os mecanismos de transmissão e de resistência e ir tentando estar um passo à frente do que se passa no terreno", disse Paulo Ferrinho.
A malária é também uma preocupação para os médicos que fazem a consulta do viajante no IHMT, onde alertam os pacientes para os riscos de viajar para zonas onde a doença é endémica e para as medidas preventivas a tomar.
"O que nós aconselhamos aos viajantes é que, quando regressarem, se tiverem febre superior a 38 graus até um ano após regressarem, devem procurar assistência médica nas primeiras 24 horas e alertar o médico de que estiveram numa zona de risco", disse.
O instituto, que em 2012 triou 193 doentes com hipótese de malária, 24 dos quais foram positivos, tem estado a sensibilizar os médicos dos hospitais e centros de saúde para a malária, doença que tende a surgir com mais frequência em Portugal devido ao aumento das migrações.
"Um dos reflexos da crise é que há mais pessoas a viajarem para fora do país por motivos profissionais e, ao regressarem, também em maior número, trazem essas doenças, a mais frequente de todas é a malária", recordou Paulo Ferrinho.
O médico lembrou que não há transmissão de malária em Portugal desde os anos 60 do século passado, pelo que considerou natural que os médicos que nunca tiveram contacto direto com a doença não estejam atentos para o problema.
Daí a preocupação do IHMT em sensibilizá-los: "O paludismo é importante porque, apesar de ser infrequente nos viajantes, é a principal causa de morte dos viajantes para as zonas de risco".
A malária é uma doença febril aguda provocada por um parasita transmitido por um mosquito. Os sintomas incluem febre, dores de cabeça, dores musculares, tosse, vómitos e diarreia e, em casos graves, pode levar à morte.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os viajantes enfrentam o risco de transmissão de malária em 99 países em todo o mundo, sobretudo em África, Ásia e nas Américas.
A OMS estima que 219 milhões de casos de malária tenham ocorrido em todo o mundo em 2010 e que 660 mil pessoas tenham morrido com a doença, a maioria das quais crianças com menos de cinco anos na África Subsaariana.
Lusa