28 de novembro de 2013 - 14h23
A Madeira regista atualmente quatro casos de dengue, todos importados, o que prova que o trabalho de contenção está a funcionar, mas também que há risco da entrada de um novo vírus no arquipélago, alertou o investigador Jorge Atouguia.
Em entrevista à Lusa a propósito de um ‘workshop’ que o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) promove esta semana sobre o dengue, o especialista explicou que a Madeira "tem feito um trabalho muito interessante", tanto no controlo do mosquito que transmite o dengue, como na educação para a saúde e na saúde pública.
"A prova disso é que no ano passado por esta altura estávamos com um surto de dengue e neste momento os casos são quatro e todos importados", disse o investigador do IHMT, recordando que "esta é a altura ideal para aparecerem casos, porque ainda está calor, mas já começou a chover".
"Está nitidamente a funcionar muito bem", disse.
Ainda assim, o facto de os casos serem todos do exterior levanta o risco de importação de um serótipo diferente.
"Isso é algo que não pode nem deve acontecer. Se entra outro, há muito mais possibilidade de formas graves da doença", disse Atouguia.
Em causa está o facto de existirem pelo menos quatro serótipos diferentes do vírus do dengue e, embora o contacto com um dos vírus crie imunidade a esse serótipo, provoca simultaneamente uma maior vulnerabilidade aos restantes.
Ou seja, uma pessoa infetada com o serótipo 01 fica imune a esse vírus, mas pode desenvolver formas mais graves, ou mesmo fatais, de dengue se for posteriormente infetado com o serótipo 02, 03 ou 04.
"Há que impedir a todo o custo a entrada de um novo serótipo", através de um controlo apertado de todas as pessoas com febre que tenham viajado de uma zona endémica nos últimos 15 dias, disse.
Questionado sobre se a resposta da Madeira ao surto de dengue, que no ano passado infetou mais de duas mil pessoas, foi um caso de sucesso, Atouguia disse: "Nunca podemos falar de casos de sucesso porque estamos sempre dependentes de questões que não podemos controlar", como o mosquito, o clima, entre outros.
Apesar de atualmente a situação ser positiva, "se não houver uma pressão continuada, a Madeira vai voltar a ter" dengue, explicou o médico, alertando que as medidas de contenção que dependem da vontade da população, por exemplo para não deixar focos de água onde o mosquito possa reproduzir-se, tendem a ser aliviadas quando a doença desaparece.
"O controlo do dengue não é fácil. Se fosse fácil, não tínhamos risco de dengue na Europa, os americanos não tinham casos de dengue em Key West e na Florida", exemplificou.
Sobre o risco de dengue em Portugal, Atouguia recordou que o mosquito vetor do dengue existe em Itália, França e Espanha, mas não há evidências de que esteja presente em Portugal continental.
Apesar disso, a Direção-Geral da Saúde "está preocupada" e tem um grupo de trabalho que está a traçar planos de contingência, disse o investigador, acrescentando que não se trata de "uma situação de alarme nem de terror", mas apenas de as autoridades estarem alerta.
Apesar de se conhecer a presença do mosquito vetor do dengue na Madeira desde 2005, só em outubro do ano passado foram registados laboratorialmente os primeiros casos de febre de dengue.
Desde essa altura e até este verão foram registados 2.170 casos e 127 doentes foram internados, mas não houve casos fatais.
Lusa