25 de janeiro de 2013 - 16h22
A lepra, considerada a mais antiga doença do mundo, afetou em 2011 mais de 200 mil pessoas a nível mundial, apesar da existência de um tratamento eficaz e gratuito.
Por ocasião do 60.º Dia Mundial dos Leprosos, assinalado no próximo domingo, a comunidade científica, organizações internacionais e o Vaticano assinalam os progressos alcançados no tratamento e no controlo da doença, mas também alertam que a incidência da lepra em alguns países, incluindo os novos casos, ainda é significativa.
Entre os países mais afetados está a Índia, onde existem mais casos, Brasil, Angola, Moçambique, Bangladesh, República Centro Africana, República Democrática do Congo, Indonésia, Madagáscar, Nepal e Tanzânia.
A lepra, um “mal” que o homem conhece há mais de 3.500 anos – os registos remontam aos papiros do antigo Egito -, é uma infeção crónica, contagiosa, provocada por uma micobactéria, a hanseníase, que ataca os nervos e os músculos, originando paralisia e lesões cutâneas definitivas, se não for tratada a tempo.
O microbiologista britânico, Stewart Cole, especialista em lepra, reconhece que foram alcançados “enormes progressos no tratamento e no controlo" da epidemia.
"Seis milhões de doentes foram tratados por poliquimioterapia (PQT) e foram curados”, realçou.
Este tratamento composto por três antibióticos, desenvolvido na década de 1980, é distribuído gratuitamente nos países mais pobres pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1995. O tratamento mata a bactéria e cura o doente num período que oscila entre os seis e os 12 meses.
Em 1985, existiam em todo o mundo cerca de 5,2 milhões de pessoas com lepra, de acordo com a OMS.
Apesar da existência do tratamento PQT e de várias campanhas de despistagem, a OMS pede agora um “último esforço” contra a doença, uma vez que a diminuição de novas infeções parece estar estagnada.
Em 2004, foram registados perto de 400 mil casos, número que caiu, em 2010, para 228.474 mil casos. Em 2011, a OMS contabilizou 219.075 mil novos casos de lepra.
“Durante os últimos cinco, quatro anos, o número de novos casos manteve-se relativamente estável, com mais de 200 mil casos”, afirmou Stewart Cole, que dirige o Instituto de Saúde Global da Escola Politécnica de Lausanne, Suíça.
“A OMS começa a colocar algumas questões. Se estamos a aplicar durante estes anos o PQT, o impacto da doença devia descer gradualmente até zero, mas não é isso que está acontecer e estamos preocupados”, indicou o especialista, que também preside a comissão médica e científica da Fundação Follereau (jornalista e poeta francês que dedicou a sua vida à causa dos doentes com lepra).
Outro especialista em lepra, o médico Roch Christian Johnson, do Benim, sublinhou que a lepra em África continua “endémica onde os sistemas de saúde são frágeis, com os centros de saúde muito distantes das populações”.
Nas regiões remotas, a despistagem precoce é difícil, reforçou o médico.
Resultado final, segundo Johnson, perto de 12 mil pessoas são diagnosticadas anualmente numa fase avançada da doença e as sequelas são irreversíveis.
Uma equipa norte-americana, de Seattle, está a trabalhar atualmente no projeto de uma vacina e vai pedir a autorização para realizar um primeiro ensaio clínico, indicou Stewart Cole.
“A ideia da vacinação poderá ser muito útil nas áreas mais remotas para imunizar a população. Mas é um processo longo”, concluiu o microbiologista britânico.
Para o Vaticano, a integração social das vítimas de lepra e das respetivas famílias é uma prioridade.
Numa mensagem hoje divulgada por ocasião do dia mundial, o presidente do Conselho Pontifício para a Saúde, o arcebispo Zygmunt Zimowski, pediu aos fiéis e às instituições de solidariedade para reforçarem a ajuda às vítimas e para impulsionarem a reinserção social destas pessoas, “que apresentam mutilações inconfundíveis”.
O dia mundial “é uma boa oportunidade para renovar o impulso da reinserção social” das vítimas diretas ou indiretas (familiares) desta doença, indicou o arcebispo.
O prelado sublinhou que a lepra “já não é mortal”, alertando, no entanto, que se for “deixada ao abandono” continuará a provocar centenas de milhares de mortos em todo o mundo.
O Dia Mundial dos Leprosos foi instituído pelas Nações Unidas em 1954.
Lusa