Os doentes portadores de um dispositivo cardíaco implantável (comumente conhecido por Pacemaker) necessitam de seguimento específico e periódico, onde são avaliados os parâmetros de funcionamento do mesmo. Além disso, pelo seu problema cardíaco, acresce o risco de necessidade de ida ao Serviço de Urgência. Porém, em muitas áreas afastadas das zonas principais, como é o caso das várias ilhas do arquipélago dos Açores, os doentes enfrentam dificuldades significativas em aceder aos cuidados cardíacos especializados: neste caso, requer uma deslocação frequente à ilha de São Miguel, dado que é um centro mais diferenciado e com tecnologia específica, o que representa uma barreira significativa, especialmente em situações de urgência, onde cada minuto conta.
Dinis Martins, Diretor de Serviço de Cardiologia do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada explica: “a vida com um dispositivo cardíaco implantável não implica grandes limitações pelo dispositivo em si, no entanto, os pacientes necessitam de um acompanhamento regular e em regiões isoladas, como em certas ilhas dos Açores, o acesso a cuidados médicos especializados é um desafio devido às barreiras geográficas.”
Inovação em curso
O Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, nos Açores, transformou agora a o acesso à prestação de cuidados cardíacos no arquipélago com duas inovações revolucionárias: o Heart Connect System e o HeartLogic. Estes avanços, com tecnologia criada pela Boston Scientific, não só representam uma significativa melhoria na tecnologia disponível ao acompanhamento de doentes com dispositivos cardíacos implantáveis, mas também impactam positivamente e de forma inovadora os desafios geográficos que afetavam até aqui o acesso dos doentes aos cuidados médicos especializados em regiões isoladas.
Atendendo a este desafio, o Heart Connect System surge como uma solução inovadora para superar estas barreiras geográficas, visto que permite que os profissionais de saúde da unidade de saúde mais próxima do doente possam partilhar essa informação em tempo real com um profissional de saúde especializado do Hospital do Divino Espírito Santo, que passa a aceder remotamente aos programadores dos dispositivos implantados, de forma a esclarecer ou resolver eventuais dúvidas ou problemas.
“Esta tecnologia é particularmente útil numa realidade arquipelágica como os Açores na qual existem ilhas apenas com centros de saúde sem possibilidade de uma consulta presencial diferenciada no seguimento deste tipo de dispositivos. Pode assim ser evitada a deslocação de um utente no qual o seu problema possa ser solucionado por aconselhamento remoto bem como rapidamente orientar a transferência hospitalar se for identificado algo que apenas possa ser resolvido noutro local” afirma André Monteiro, Cardiologista do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada”.
A consulta de doentes com dispositivos cardíacos que residem nos Açores é centralizada em 4 ilhas do arquipélago (São Miguel, Terceira, Faial e Santa Maria) com um centro de monitorização remota para todos os doentes com cardiodesfibrilhadores (CDIs) e ressincronizadores (CRTs) sediado no Serviço de Cardiologia do Hospital do Divino Espírito Santo. Atualmente, esta ferramenta (Heart Connect) já se encontra disponivel nestes 4 polos tornando-a assim acessível a todos os doentes Açoreanos com estes dispositivos.
Para além desta inovação, o Serviço de Cardiologia do Hospital do Divino Espírito Santo implementou também uma inovação, o HeartLogic, que vem representar um avanço significativo na monitorização remota contínua de doente com Insuficiência Cardiaca. Utilizando sensores fisiológicos nos dispositivos cardíacos, este algoritmo avançado identifica pacientes em risco de descompensação cardíaca e permite realizar uma intervenção por parte da equipa médica que segue o doente, de modo a evitar um internamento por Insuficiência Cardíaca, que é uma das causas reconhecidas de aumento da mortalidade na população. Muitas destas intervenções podem ser feitas sem ser necessário o doente sair de casa, apenas com um aconselhamento e orientação terapêutica via telefone.
Superar desafios geodráficos
Esta inovação não prevê apenas precocemente situações de risco, mas também estabelece uma comunicação eficaz entre os membros da equipa médica, permitindo intervenções proativas e ajustes na terapêutica do doente. André Monteiro acrescenta que “o seguimento dos doentes com IC e portadores deste tipo de dispositivos já de si requer o seguimento por uma equipa multidisciplinar entre médicos, técnicos de cardiopneumologia e enfermeiros, todos eles com uma diferenciação própria. Neste sentido, esta tecnologia irá permitir uma maior e melhor cooperação entre todos os profissionais de saúde envolvidos”.
Estas inovações não só elevam o padrão de cuidados cardíacos nas ilhas dos Açores, mas também demonstram o compromisso em superar desafios geográficos e oferecer soluções acessíveis a todas as regiões. Dinis Martins, afirma ainda que "estas inovações não melhoram apenas a eficácia do seguimento médico, mas também capacitam os pacientes. O acesso remoto aos programadores dos dispositivos e a monitorização contínua permitem que os pacientes participem ativamente no seu cuidado, promovendo uma abordagem proativa à saúde”.
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