No texto, datado de 05 de fevereiro, terça-feira, e assinado pelo diretor clínico do hospital, é referido que "as enfermarias de medicina mantêm uma taxa de ocupação diária de 100% e um número nunca inferior a 18-20 doentes distribuídos nas enfermarias das especialidades”, e os "constrangimentos desta situação são sentidos diariamente", havendo ainda nesta fase um "afluxo significativo" de doentes às urgências.

Tal tem gerado, prossegue o diretor clínico do hospital açoriano, "pressão sobre os profissionais de saúde", aumento de "conflitualidade interpares, interprofissionais e com os próprios doentes" e "degradação da qualidade e segurança assistenciais" aos doentes.

A direção clínica e a administração do HDES dizem que têm "chamado a atenção da tutela" há "mais de dois anos" para a necessidade de se ter "uma solução nos cuidados primários e na comunidade de modo a que sejam libertadas as camas ocupadas com casos sociais e de cuidados continuados".

Contudo, prossegue a missiva, "continuam internados um número significativo de utentes com alta médica a aguardar solução social".

Nos últimos dias, a situação agravou-se e foi comunicada à tutela, tendo o diretor clínico, "em consciência e em concordância com o restante conselho de administração", decidido manter a "suspensão de toda a atividade cirúrgica dos programas de cirurgia adicional, de acordo" com uma outra nota interna de 10 de janeiro, e aplicado uma norma de março de 2018 suspendendo "a atividade cirúrgica programada nos moldes contidos" nesse texto.

Nessa circular do ano passado, a que a Lusa teve também acesso, era decretada a suspensão de "toda a atividade cirúrgica programada que implique o internamento prolongado dos doentes", o que agora se repete.

As exceções à regra incluem casos de doentes que "estejam em tratamento e cuja cirurgia já programada faça parte do processo terapêutico", doentes com "patologia neoplásica prioritária e já agendados", "doentes já internados e a aguardar cirurgia nas diferentes especialidades" ou casos que impliquem "a vinda de cirurgião não residente" nos Açores ou "material já requisitado do exterior".

A circular de 05 fevereiro não aponta uma data para o fim da suspensão das cirurgias programadas, antes assevera que será retomada a atividade do bloco operatório "assim que estejam garantidas as condições de segurança e ultrapassados os atuais constrangimentos sentidos pelo hospital".

O diretor clínico do HDES diz-se triste por, "apesar de insistentemente terem sido lançados alertas ao longo dos últimos anos", não se ter ainda conseguido "construir uma solução para as situações críticas, mais ainda sendo previsíveis e com tendência a agravar ano após ano", e diz ainda "lamentar profundamente os incómodos causados aos doentes", nomeadamente aos que "tinham a expectativa de poderem ser operados nos próximos dias".

A Lusa contactou a secretaria regional da Saúde do executivo açoriano, que remeteu um comentário para momento posterior.