Os diretores de serviço expressam as suas preocupações num manifesto público hoje divulgado e enviado à agência Lusa, intitulado “Porque não podemos, nem queremos, ficar indiferentes”.

Os clínicos “manifestam a sua preocupação pela situação de absoluta carência de médicos para fazer face às necessidades assistenciais da população pela qual a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA) é responsável”, pode ler-se no documento.

As frases mais ridículas ouvidas pelos médicos
As frases mais ridículas ouvidas pelos médicos
Ver artigo

Em especial, os signatários alertam “para o risco iminente de colapso nas urgências de Pediatria e Obstetrícia e para as graves dificuldades que estão a passar a Anestesiologia, a Radiologia, a Cirurgia Geral e mesmo a Ortopedia”.

Vários serviços subscritores

O manifesto é subscrito pelos diretores dos serviços de Psiquiatria, Fisiatria, Pediatria, Hematologia, Pedopsiquiatria, Medicina, Anestesia, Ortopedia, Obstetrícia, Hospital de Dia de Oncologia, Urgência e Patologia Clínica.

Contactado pela Lusa, o conselho de administração da ULSBA remeteu para mais tarde uma reação a este manifesto.

A diretora de Psiquiatria, Ana Matos Pires, explicou à Lusa que o documento foi subscrito por “mais de metade dos diretores de serviço” do hospital de Beja, que são “cerca de 20”.

“Este não é um manifesto contra ninguém. Não queremos ‘apontar o dedo’ ao conselho de administração do hospital, que é o primeiro a estar preocupado com estas situações”, mas é necessário “pôr o assunto em cima da mesa e discuti-lo”, sustentou.

Segundo a médica, a “absoluta carência de médicos é uma realidade nacional conhecida para todo o interior do país” e o Hospital José Joaquim Fernandes não é uma exceção, mas os problemas têm-se vindo a agravar.

“Existem dificuldades mensais na elaboração da escala de urgência” de Pediatria e Obstetrícia, devido “à falta de clínicos”, mas também “para a Urgência geral do hospital”.

E a Pedopsiquiatria, destacou, “está em carência absoluta. Há uma pedopsiquiatra que é a única no Serviço Nacional de Saúde no Alentejo inteiro”.

A médica reconheceu que “as soluções não são fáceis”, mas, com o manifesto, enviado para o Ministério da Saúde, Administração Regional de Saúde do Alentejo, Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL) e câmaras dos concelhos servidos pela ULSBA, os diretores querem mostrar que “estão disponíveis para ser parte da solução”.

“A não abertura de concursos para recém-especialistas em 2017 e as dificuldades acrescidas de atrair e manter novos clínicos nesta região são problemas que urge discutir e tentar resolver”, em conjunto com as várias entidades, refere o manifesto.

“Em 2017, não abriram vagas nacionais para as especialidades hospitalares, abriu apenas um concurso para a Medicina Geral e Familiar. Se tivessem aberto, não sei se os médicos vinham ou não para Beja, mas a não existência destes concursos” significou, “menos uma possibilidade de as pessoas virem para cá”, insistiu Ana Matos Pires.

Frisando que os signatários não abordaram, para já, a adoção de outras medidas, como a demissão, a diretora de Psiquiatria defendeu que os incentivos financeiros são “uma questão importante”, mas não exclusiva, para atrair médicos especialistas.

Uma “discriminação positiva” para os hospitais do interior que favoreça a qualificação dos clínicos e progressão na carreira, sem utilizar “internos para ‘tapar buracos’ de necessidades” e com apoios “à formação e à publicação de trabalhos em revistas internacionais”, é uma das medidas que Ana Matos Pires sugeriu.

“É preciso melhorar os serviços para lhes dar qualidade para poderem formar clínicos e, depois, incentivos económicos, mas não só, para que o jovem médico se fixe e opte por uma cidade do interior”, sublinhou, sugerindo também a disponibilização pelas autarquias de “casas a preços mais baratos e em condições para jovens médicos”.