3 de junho de 2013 - 16h50
A presidente da associação Abraço, Margarida Martins, denunciou hoje que alguns hospitais deixaram de enviar pelo correio os medicamentos para o VIH/Sida destinados a doentes com dificuldades financeiras, privando-os de tratamento.
“As pessoas não têm mesmo dinheiro e veem-se com muitas dificuldades em deslocar-se aos hospitais”, lamentou à agência Lusa.
Estes casos têm chegado à Abraço através de pedidos de ajuda dos doentes e também dos médicos, disse a responsável, adiantando que a associação está a enviar medicamentos para a Madeira, Açores, para a área do grande Porto, da grande Lisboa e Setúbal.
“Sinto-me um bocadinho preocupada, para não dizer bastante, com a história do acesso aos medicamentos, a história das pessoas morarem longe e dos hospitais deixarem de enviar os medicamentos como antigamente”, disse Margarida Martins, que falava à Lusa a propósito dos 21 anos da Abraço, que vão ser assinalados na quarta-feira.
Para Margarida Martins, esta situação “pode levar a um retrocesso no tratamento".
"O que se andou a fazer, então não valeu a pena, porque se gastou muito dinheiro para apoio às pessoas e de repente o que é que acontece? Deixam as pessoas de ter acesso? Deixam de ir buscar os medicamentos? Isso não pode ser assim”, questionou.
Contactado pela Lusa, o coordenador do Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida disse não ter registo desta situação.
“Em princípio a medicação não é enviada pelo correio. Na grande maioria dos casos as pessoas vão levantar e medicação mensalmente aos hospitais”, disse António Diniz, afirmando que o envio da medicação pelo correio não é um procedimento habitual.
“Eu sei que existem, mas não são a generalidade. São situações relativamente pontuais”, frisou.
António Diniz adiantou que recebeu um e-mail de uma pessoa que não refere explicitamente esta situação, afirmando apenas que deixou de haver envio de medicação ao domicílio.
“A entrega ao domicílio tanto pode ser feita pelo correio como por outras pessoas devidamente credenciadas pelos utentes que podem levantar a medicação para lhes ser distribuída”, explicou.
“São modalidades diferentes que têm em vista facilitar o acesso das pessoas à medicação sem implicar a deslocação periódica das pessoas ao hospital”, acrescentou.
O coordenador disse ainda saber que há locais em que “organizações devidamente credenciadas pelos doentes vão buscar a medicação aos hospitais" para os distribuir aos utentes.
Margarida Martins apontou que esta situação está a afetar cerca de 200 pessoas e que os casos não são relatados ao Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida porque a associação está a resolver a situação.
“Neste momento estou a enviar medicamentos para distâncias de 20 quilómetros. As pessoas não têm dinheiro para se deslocarem aos hospitais”, frisou.
A presidente da Abraço afirmou que, “onde a associação está implantada não há problema”, porque esta faz o envio.
“Nas situações em que [a Abraço] não está andamos em negociações com o Governo para que os hospitais promovam essas entregas pelo correio”, frisou, defendendo que cabe ao Ministério da Saúde "tomar uma posição".

Lusa