Este estudo teve como principal objetivo avaliar os efeitos interativos entre o aumento de temperatura e as hormonas presentes nas pílulas, usadas também em terapias hormonais de substituição (utilizadas em doentes com cancro, por exemplo), na reprodução e na descendência do peixe zebra, explicou à Lusa a investigadora Patricia Cardoso, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto.

"As hormonas estudados neste trabalho imitam o papel da progesterona, uma hormonal natural, são frequentemente detetadas em águas de superfície e são provenientes dos esgotos das habitações e dos hospitais, não sendo eficazmente eliminadas através dos sistemas de tratamento de águas", indicou.

Embora sejam lançadas para o ambiente em concentrações muito baixas, esta situação verifica-se diariamente e "não tem tido a atenção que merecem", revelou a investigadora.

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De acordo com Patrícia Cardoso, os resultados deste estudo revelam que o aumento de temperatura (mais três graus centígrados) potenciou o efeito da hormona, conduzindo a um atraso na reprodução do peixe zebra e potencial inibição, mesmo com concentrações que presentes em concentrações muito baixas.

Para a investigadora, o grande problema, atualmente, é que as estações de tratamento de águas residuais (ETAR) não são eficientes na retenção destes compostos, o que significa que estes compostos são constantemente lançados para os cursos de água e, podendo causar danos significativos ao nível da reprodução dos organismos aquáticos.

"Durante o último século, o aquecimento global tem promovido o aumento da temperatura de várias massas de água", sendo esta uma das variáveis ambientais "mais importantes, uma vez que controla o funcionamento geral das comunidades aquáticas".

Os organismos ectotérmicos, como os peixes, são especialmente afetados por alterações ambientais, visto que equalizam a sua temperatura interna com a do meio envolvente, continuou.

Segundo a investigadora, embora já existam alguns estudos focados na ação destes compostos, este é o primeiro que conjuga os dois fatores que influenciam negativamente a reprodução desta espécie - as hormonas lançadas para o ambiente e as alterações climáticas, especialmente o aumento da temperatura.

"A indústria farmacêutica está constantemente a lançar novos compostos para o mercado e é importante perceber se os mais recentes, por exemplo, poderão ter menos impacto negativo relativamente a compostos mais antigos, mas que ainda continuam a ser consumidos", disse ainda Patrícia Cardoso.