A revelação foi feita no âmbito da investigação de doutoramento em Ciências Veterinárias de Fernando Esteves, apresentada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), com orientação dos investigadores Ana Cláudia Coelho e Luís Cardoso do CECAV, Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias, do investigador João Mesquita do ICBAS e vários investigadores do Instituto Politécnico de Viseu, informa a UTAD em comunicado.
O vírus disseminou-se nos últimos anos por vários países europeus, contudo nenhum estudo tinha sido efetuado no território português, uma circunstância que criou uma lacuna de conhecimento que justificou uma investigação urgente por parte da UTAD.
Segundo Fernando Esteves, nos bovinos, se o vírus infetar uma fêmea gestante, para além da ocorrência de abortos, o feto poderá apresentar sinais teratogénicos graves que se podem resumir na Síndrome Artrogripose Hidranencefalia, que é um defeito congénito caracterizado pela completa ou quase completa ausência dos hemisférios cerebrais, bem como malformações ao nível da coluna vertebral. Ainda assim, até ao momento não existem nenhumas evidências de que SBV pode infectar os humanos.
Para se conhecer a epidemiologia do vírus Schmallenberg em Portugal, refere o investigador, “um dos principais objetivos consistiu em realizar um estudo serológico para estimar a presença de imunoglobulina G contra esse vírus em ovinos, consistindo tal, numa amostragem aleatória estratificada nas cinco regiões de Portugal continental (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve)”.
Uma atenção especial foi dada à circulação do SBV na região da Serra da Estrela, uma área geográfica de elevada altitude e baixa temperatura, fatores hostis á circulação do inseto responsável pela transmissão da doença, sendo que o estudo permitiria aferir da eventual circulação do vírus nestas condições.
A investigação serológica prospectiva envolveu 168 ovelhas distribuídas por 42 rebanhos registados oficialmente como detentores de animais da raça Serra da Estrela, demonstrando-se, segundo o investigador, que “o vírus Schmallenberg circula em elevadas altitudes e é endémico em rebanhos de ovinos no centro de Portugal, incluindo em rebanhos com movimentação restrita”.
Para se aferir do nível de importância da circulação de SBV em rebanhos de ovinos serra da Estrela, desenhou-se uma investigação serológica longitudinal de dois anos, usando amostras de leite de tanque de 68 explorações. Foi observada uma diminuição da seroprevalência com 92,6% das amostras de leite de tanque positivas em 2015 e, 77,9% em 2016 (p = 0,027).
As diferenças observadas ao nível dos rebanhos, nos valores de seroprevalência de 2015 e 2016 parecem estar de acordo com os dados observados em outros países europeus, em que após um comportamento epidémico de disseminação do vírus, se seguiu uma diminuição do número de infeções provocadas por SBV, o que nos deixa um sério alerta para o risco de uma futura reemergência do vírus.
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