As gripes e constipações, mais frequentes no inverno, são uma dor de cabeça para os pais que têm de faltar ao trabalho para acompanhar os filhos. Cada vez mais têm medo de serem despedidos por isso, mesmo quando a lei os protege.
“Cada vez há mais pais que falam das suas dificuldades em faltar ao trabalho para acompanharem os filhos quando estes, por estarem doentes, não podem ir para a escola”, disse à Agência Lusa Luísa Tavares, da Associação dos Profissionais de Educação da Infância (APEI). Esta educadora de infância considera que estas dificuldades estão associadas à cada vez menor disponibilidade ou ausência de avós para ficarem com os netos quando estes estão doentes.
“Não é fácil para muitos pais e eles partilham connosco as suas angústias e receios de serem despedidos por faltarem ao trabalho para darem assistência aos filhos”, adiantou. A mãe de Xavier despediu-se antes que a despedissem por faltas consecutivas ao trabalho devido aos problemas de saúde do filho, hoje com 12 anos.
“Estava no quadro da empresa, onde era auxiliar de educação há oito anos, mas quando o meu filho nasceu faltei quase todas as semanas devido aos seus problemas do foro respiratório”, contou à Lusa Mariana, com 36 anos. “Não aguentava a pressão. Tinha de ser substituída e quem me substituía também me pressionava, atribuindo-me culpas pelo seu acréscimo de trabalho”, contou. Os patrões deixaram de contar com ela e ao fim de um ano nesta situação despediu-se:
“Perdi uma carreira e estive três anos desempregada. Tive de ir para a restauração. Mas valeu a pena, pela saúde do meu filho”. Mais sorte tem Beatriz, jornalista e que conta com os so gros para não faltar ao trabalho quando as filhas - Leonor, 12 anos, e Maria, de sete - estão doentes. Apesar de terem sido poucas as vezes que as filhas estiveram doentes, Beatriz não precisou de faltar ao trabalho, pois pode deixá-las nos avós, que moram perto de si.
“Sem o apoio dos meus sogros, eu ou o meu marido teríamos de faltar ao trabalho, pois não tenho mais ninguém onde as deixar, pelo menos com esta facilidade”, contou à Lusa. Angústias que se têm multiplicado neste inverno, caracterizado por um significativo número de crianças afetadas por gripe e constipações.
Quando os sintomas se revelam nas creches e jardins de infância, o procedimento dos profissionais de saúde é avisar os pais, nomeadamente quando existe febre, como explicou Luísa Tavares, da APEI. Devido a estes casos, muitas têm sido as creches e jardins de infância com significativas ausências de alunos e a respetiva abstenção laboral dos país. Odete Filipe, da CGTP, não hesita em classificar a situação atual de “retrocesso sem igual” nos direitos dos trabalhadores de acompanharem as crianças.
“Cada vez há mais mães que se queixam da dificuldade em justificar ausências, mesmo quando existe uma justificação médica”, disse. Odete Filipe acrescentou que “as trabalhadoras têm medo que o desemprego a que assistem em outras empresas lhes bata à porta e queixam-se da entidade patronal utilizar esse desemprego para as ameaçar”. Esta dirigente sindical lembra um estudo recente que indica que mais de 70% das empresas portuguesas não planeia contratar mães trabalhadoras em 2011.
21 de janeiro de 2011
Fonte: LUSA/SAPO
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