Na quinta-feira, o Governo dos EUA informou que os cerca de meio milhão de norte-americanos que perderam o seguro de saúde por causa da paralisação económica provocada pela pandemia de COVID-19 estavam a recorrer ao serviço de saúde providenciado pelo Estado, conhecido como “Obamacare” (por ter sido criado pelo ex-Presidente Barack Obama, em 2010).

Mas é exatamente o Obamacare que Donald Trump prometeu extinguir, durante a campanha presidencial de 2016, tendo esta semana remetido para o Supremo Tribunal um pedido para anular este programa de assistência médica, apesar da crise sanitária e dos preocupantes números de aumento de casos de contaminação com o novo coronavírus.

Se a lei for anulada, como pretende Trump, mais de 20 milhões de norte-americanos poderão ficar sem qualquer cobertura de saúde, segundo as autoridades sanitárias dos EUA.

A líder da maioria democrata na câmara de representantes, Nancy Pelosi, já criticou esta decisão do Governo e, em resposta, prometeu apresentar, na próxima semana, um projeto de lei para expandir o “Obamacare”.

“Não há qualquer justificação legal, nem desculpa moral, para os desastrosos esforços do Governo Trump para retirar os cuidados de saúde dos americanos”, disse Pelosi, num comunicado.

Pelosi invoca o facto de vários estados do sul dos EUA — incluindo Arizona, Califórnia, Florida, Geórgia, Nevada e Texas — estarem neste momento a sofrer um incremento no número de contaminações e de internamentos, por causa da pandemia.

A luta do Partido Republicano contra o “Obamacare” deu bons resultados eleitorais aos conservadores, que beneficiaram da popularidade dos ‘slogans’ contra o sistema de saúde, que Trump considera ser injusto e prometeu reformar.

Mas perante a incapacidade de fazer passar essa reforma, em 2017, o Congresso determinou que a lei de assistência médica devia permanecer ativa e exigiu ao Governo que alocasse verbas para a tornar efetiva.

Depois do início da pandemia de covid-19, um relatório do Governo revelava que o número de norte-americanos a recorrer ao “Obamacare” iria aumentar, inevitavelmente.

O relatório salienta que cerca de 500.000 norte-americanos já se inscreveram no programa, desde o início da pandemia, o que representa um aumento de 46% relativamente ao mesmo período do ano passado.

Nos Estados Unidos foram registados cerca de 2,5 milhões de casos de contaminação, incluindo cerca de 125 mil mortes.

A pandemia de covid-19 já provocou quase 487 mil mortos e infetou mais de 9,6 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.