Esta nova experiência envolveu apenas três pacientes, mas em locais do cérebro onde a nova tecnologia teve como alvo, a nova ferramenta melhorou a remoção da placa que obstrui o cérebro, ‘marca registada’ do Alzheimer, relataram esta terça-feira os cientistas.
“O nosso objetivo é dar aos pacientes uma vantagem inicial”, impulsionando alguns novos tratamentos para Alzheimer que levam muito tempo para ter efeito, explicou Ali Rezai, do Rockefeller Neuroscience Institute da West Virginia University, que liderou o estudo.
Em causa está o que é apelidado como barreira hematoencefálica, um revestimento protetor nos vasos sanguíneos que impede que germes e outras substâncias prejudiciais cheguem ao cérebro a partir da corrente sanguínea.
Mas também pode bloquear medicamentos para a doença de Alzheimer, tumores e outras doenças neurológicas, exigindo doses mais elevadas durante períodos mais longos, o suficiente para atingir o seu alvo dentro do cérebro.
Estes cientistas utilizaram uma tecnologia ultrassom, personalizada para alcançar aberturas temporárias nesse escudo, injetando bolhas microscópicas na corrente sanguínea. Em seguida, transmitiram ondas sonoras através de um dispositivo semelhante a um capacete para uma área específica do cérebro. Os impulsos de energia vibram as microbolhas, que geraram lacunas na barreira, o suficiente para que os medicamentos entrem.
Pequenos estudos anteriores descobriram que a tecnologia pode fazer pequenos buracos com segurança, que se fecham em 48 horas.
Agora, a equipa de Rezai deu um passo em frente, administrando um medicamento para a doença de Alzheimer ao mesmo tempo.
Alguns novos medicamentos para a doença de Alzheimer, no mercado ou em desenvolvimento, prometem retardar o agravamento da doença que afeta a mente, mas exigem infusões intravenosas com poucas semanas de intervalo durante pelo menos 18 meses.
Para reduzir este tempo, os investigadores administraram em três pacientes com Alzheimer leve doses mensais de um destes medicamentos, o Aduhelm, durante seis meses. Logo após cada administração intravenosa, os cientistas direcionaram o ultrassom focado para uma parte específica do cérebro de cada paciente, abrindo a barreira hematoencefálica para que mais da dose daquele dia pudesse entrar.
Os exames dos pacientes antes e depois dos seis meses de medicação mostram que houve uma redução da placa cerca de 32% maior em locais onde a barreira hematoencefálica foi rompida, em comparação com a mesma região no lado oposto do cérebro, relataram os investigadores no New England Journal of Medicine.
Este projeto-piloto é elegante, mas pequeno demais para tirar quaisquer conclusões, advertiu, por sua vez, Eliezer Masliah, do Instituto Nacional do Envelhecimento.
Ainda assim, “são dados muito interessantes e convincentes”, acrescentou Masliah, que não esteve envolvido na investigação, aludindo a “estudos mais extensos e maiores”.
Rezai está prestes a iniciar outro pequeno teste de um medicamento semelhante, mas mais comprovado, chamado Leqembi. Eventualmente, grandes estudos serão necessários para saber se a combinação do ultrassom focalizado com medicamentos para Alzheimer faz uma diferença real para os pacientes.
Masliah alertou ainda que também é importante verificar se uma redução mais rápida da placa pode aumentar o risco de um efeito colateral raro, mas preocupante, desses novos medicamentos, como derrames ou inchaço no cérebro.
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