Os investigadores usaram uma nova abordagem para identificar cinco medicamentos para o coração que também podem ser eficazes no combate ao tipo mais comum de cancro cerebral em crianças: o meduloblastoma.
O estudo foi publicado na revista Science Translational Medicine.
Tratamentos contra meduloblastoma são muito agressivos
O meduloblastoma é o tumor cerebral maligno mais comum em crianças, sendo responsável por 20 a 25% dos tumores cerebrais pediátricos.
Os tratamentos atuais aumentaram significativamente a taxa de sobrevivência, mas muitas crianças ainda enfrentam efeitos secundários complicados decorrentes do tratamento, que podem afetar o cérebro, as hormonas e a fertilidade para o resto da vida.
Para além disso, muitos pacientes não respondem bem às opções de tratamento disponíveis.
Existe, por isso, uma necessidade urgente de melhores tratamentos que tenham menos efeitos secundários.
Infelizmente, o desenvolvimento de novos medicamentos contra o cancro infantil ainda é um processo demorado, que se baseia em vários anos de pesquisa clínica, para além de um longo processo de aprovação.
Agora, graças a uma nova abordagem computacional, o extenso processo de aprovação por parte do regulador de saúde norte-americano (FDA) pode tornar-se um benefício para a descoberta de medicamentos, em vez de apenas um obstáculo.
A equipa de pesquisa já sabia que os dados sobre os fármacos recolhidas durante o primeiro processo de aprovação da FDA poderiam ser re-analisados para se encontrarem cruzamentos entre as doenças que os fármacos, provavelmente, tratam.
Este processo é chamado de reposicionamento sistemático de fármacos, e usa métodos de modelagem computacional para comparar os perfis de expressão génica de um medicamento aprovado, ou seja, quais genes com que esse medicamento trabalha, para os genes ativos em pacientes com uma doença.
Os tumores do meduloblastoma são complexos e muitas vezes muito diferentes de paciente para paciente, e até mesmo internamente num único paciente.
Os investigadores desta nova pesquisa acreditavam que o reposicionamento sistemático de medicamentos poderia funcionar para encontrar fármacos mais eficazes para o meduloblastoma, mas suspeitavam que a técnica poderia ser melhorada.
Para isso, a equipa trabalhou com outros especialistas de forma a criar um novo método sistemático de reposicionamento de medicamentos que pudesse funcionar contra algo tão complicado quanto o meduloblastoma.
Digoxina pode abrir nova janela de oportunidade
Este novo método identificou oito fármacos como possíveis agentes de combate ao meduloblastoma, incluindo três já utilizados como quimioterapia contra outros cancros e cinco anteriormente usados para tratar a insuficiência cardíaca.
Os investigadores também mostraram que um dos fármacos utilizados no tratamento de doenças cardíacas, a digoxina, conseguiu aumentar a longevidade de ratos que sofriam de meduloblastoma.
As cobaias sobreviveram durante mais tempo quando a digoxina foi combinada com radiação.
“Estas descobertas são notícias excelentes, pois não só podemos melhorar a sobrevida global de pacientes com meduloblastoma com digoxina, como os resultados sugerem que, potencialmente, também podemos reduzir a dose de radiação necessária e assim minimizar os efeitos secundários a longo prazo”, disseram os investigadores.
Para os cientistas, como a “digoxina é usada há muitos anos para tratar a insuficiência cardíaca, os seus efeitos secundários já são bem conhecidos”.
Noutras palavras, o potencial da digoxina como terapêutica para o meduloblastoma parece poder dar esperança a pacientes com cancro infantil.
Fonte: PIPOP
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