A prevenção é a palavra-chave no ataque às doenças do coração. José Silva Cardoso, médico e presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, lembra que “o exercício físico não pode ser uma opção, é uma necessidade”.

No 36.º Congresso da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, em Albufeira, o médico frisa que a “obesidade é a mãe de todas as doenças contemporâneas”.“Não podemos fazer exercício físico hoje e amanhã não. Devemos fazê-lo todos os dias pelo menos 30 minutos”, recorda. “Fazer desporto é tão importante como tomar banho ou tomar o pequeno-almoço todas as manhãs, é um hábito que tem de ser incorporado no dia-a-dia”, defende.

Metade dos portugueses não se exercita

Segundo dados compilados pela Fundação Portuguesa de Cardiologia, mais de metade dos homens portugueses são fisicamente inativos e 57% das mulheres também não faz qualquer tipo de desporto.

Estudos referentes a 2008 e 2009 apontavam para que 19,9% dos homens com idades entre os 18 e os 64 anos sejam obesos, número idêntico na faixa feminina (19,8%), o que resulta num problema de saúde pública com forte impacto social e económico, diz Mário Durval, da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública.

O especialista destaca dados da Organização Mundial de Saúde: “dois terços dos óbitos no mundo são por doença crónica não transmissível”, nas quais a obesidade surge como a protagonista.

“Não é por acaso que este tema é debatido no Fórum Económico Global. A Organização Mundial de Saúde já fez saber que esta é uma das principais ameaças ao desenvolvimento económico”, lembra.

Na última década, as doenças cardiovasculares representaram 30% de todas as mortes e 50% das doenças crónicas não transmissíveis, como a diabetes, hipertensão e cancro, sublinha ainda Mário Durval.

Embora a incidência deste tipo de doenças seja agravada por fatores de risco como o tabagismo, má alimentação e a inatividade física (causa de 80% das doenças cardiovasculares), a idade é também um fator decisivo. “Nestas doenças, à medida que se vai ficando mais velho, a incidência aumenta”, assevera Roberto Palma dos Reis, da Fundação Portuguesa de Cardiologia.

“Não nos podemos esquecer que a população mundial de hoje com 65 ou mais anos representa a totalidade das pessoas que atingiram esta idade na história da humanidade”, acrescenta Manuel Oliveira Carrageta, Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia.

Reabilitação Cardíaca pouco abrangente em Portugal

Miguel Mendes, presidente eleito para o biénio 2015-2017 da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, defende a aposta na reabilitação cardíaca em Portugal, uma realidade ainda insuficiente aos seus olhos.

“Apenas 9,2% dos doentes com síndrome coronária aguda participa em programas de reabilitação cardíaca”, avança o especialista, que indica que só em 2013 houve 12.668 casos deste tipo de patologia em Portugal.

A reabilitação cardíaca visa otimizar a recuperação funcional do doente que sofreu um acidente cardiovascular, melhorar a sua qualidade de vida e reduzir o risco de complicações cardíacas, incluindo o de morte prematura. “O sonho seria aumentar a percentagem de doentes em reabilitação cardíaca para 30% em 2020”, adianta.

O 36.º Congresso Português de Cardiologia decorre até 21 de abril, terça-feira, no Palácio de Congressos do Algarve, em Albufeira, e conta com 1654 médicos cardiologistas, portugueses e estrangeiros.

O SAPO esteve no 36.º Congresso Português de Cardiologia, em Albufeira, a convite da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.