Cada comunidade religiosa “tem a sua própria posição” e, portanto, caberá a cada uma manifestar-se sobre o referendo, disse o padre José Nuno Silva aos jornalistas, no final de uma conferência de imprensa do GTIR a propósito da discussão parlamentar e votação dos diplomas sobre a eutanásia marcada para o dia 20.
Para Khalid Jamal, da Comunidade Islâmica de Lisboa, “é precoce, para já” falar da questão do referendo à eutanásia.
“Não faz parte das nossas prioridades”. Contudo, defendeu, é preciso “chamar a atenção” que o referendo é “acima de tudo um instrumento de consulta e, portanto, não é vinculativo, pese embora subsistam” no seio das sociedades que, à partida, “a legitimidade conferida por um referendo é absoluta” porque é a sociedade a falar.
O pastor da Aliança Evangélica Portuguesa Jorge Humberto disse, por seu turno, esperar que, no dia 20, os deputados tenham “um arrebatamento de consciência e percebam que de facto não há maturidade, nem condições para que esta situação seja aprovada na Assembleia da República”.
“Esperamos vivamente que isto não aconteça”, porque “a pressa com que as coisas estão a ser feitas é inimiga a que haja uma reflexão profunda, transversal sobre as implicações [da lei], não apenas para esta geração, mas para as gerações seguintes”, sublinhou o pastor.
Mas, vincou, se o parlamento aprovar a lei a Aliança Evangélica Portuguesa “irá inclusivamente usar o referendo e potencializar o referendo para que esta questão seja falada com a maior profundidade possível e que as pessoas tenham absoluta consciência do que está em jogo”.
Há países que já legislaram sobre eutanásia e onde está a haver “movimentos muito sérios no sentido de reverter a lei”, porque “as discrepâncias que existem relativamente à lei (…) são gritantes” devido ao efeito que estão a ter na vida das pessoas.
Para o padre João Nuno Silva, o que está em causa “não pode ser apenas uma arma de arremesso entre partidos por razões de conveniência, de tática, seja do que for”.
“Deus nos livre dos nossos políticos não compreenderem que o que está aqui em causa é da ordem da política, da política pura, não do jogo partidário”, salientou o porta-voz GTIR.
“Insensivelmente deixámos resvalar a política para o mundano, mas a política é muito mais do que o mundano e era bom que os políticos percebessem isso”, disse.
“Essa equivalência entre política e mundanidade é o veneno da democracia. É isso que estamos a assistir”, lamentou José Nuno Silva.
Questionou ainda que se oito entidades religiosas foram capazes de se juntar há dois anos e fazer a declaração ‘Cuidar até ao fim com compaixão’, porque é que não há de a sociedade portuguesa ser capaz de se encontrar.
No caso do parlamento, defendeu José Nuno Silva, cada deputado tem de perceber que “é sujeito de uma consciência individual” e que não pode deixar-se instrumentalizar por disciplinas de voto.
O GTIR, que integra a Aliança Evangélica, a Comunidade Hindu, a Comunidade Israelita, a Comunidade Islâmica, a Igreja Católica, o Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, a União Budista e a União Portuguesa dos Adventistas do Sétimo Dia, pediu audiências ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República e à Comissão Parlamentar de Saúde.
Sobre o que o GTIR espera da audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, José Nuno Silva disse que “continue a ser o Presidente da República dos portugueses”.
“Confiamos no seu juízo e esperamos concretamente que ele saiba tomar as decisões certas que lhe cabem. Sabemos como ele se posiciona na vida”, mas “sabemos também que está obrigado à isenção que o seu cargo implica”, rematou.
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