Recordes de calor
Muito provavelmente 2018 será o quarto ano mais quente desde que começaram os registos das temperaturas, em 1880, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Assim, o século XXI conta já com 17 dos 18 anos mais quentes alguma vez registados.
Neste verão no hemisfério norte, a Europa, o oeste dos Estados Unidos e a Ásia foram castigados por ondas de calor. Em Portugal, Escandinávia, Japão e Argélia, por exemplo, foram reportadas temperaturas recorde e também incêndios gigantescos.
No Ártico, a extensão da banquisa de gelo manteve-se muito abaixo da média durante todo o ano e registou um recorde mínimo em janeiro e fevereiro. Os glaciares também retrocederam pelo 38º ano consecutivo. Na Suécia, o pico sul da montanha Kebnekaise deixou de ser o mais alto do país, devido às temperaturas excepcionais do verão.
405,5 partes por milhão
A concentração dos três principais gases causadores do efeito de estufa - dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido de nitrogénio (NOX) - alcançou novos máximos em 2017 e o seu avanço prossegue este ano.
A concentração de CO2, um gás que persiste durante vários séculos, foi de 405,5 partes por milhão (ppm) em 2017. A última vez que a Terra registou concentração semelhante foi há 3 ou 5 milhões de anos atrás, segundo a OMM. A temperatura na ocasião era de 2º a 3ºC mais alta e o nível do mar superior entre 10 a 20 metros ao atual.
As emissões de metano, ligadas sobretudo à queima de energias fósseis e às atividades agropecuárias, aumentaram na última década. A sua concentração chegou em 2017 a um nível equivalente a 257% do registado antes da Revolução Industrial.
+3,3 mm ao ano
A elevação do nível dos oceanos, variável segundo as regiões, foi de 20 cm, em média, no século XX. Atualmente, eleva-se 3,3 mm por ano e o fenómeno parece estar a acelerar. O nível dos mares aumentou 25% a 30% mais rapidamente entre 2004 e 2015 em relação a 1993-2004. O degelo das calotas de gelo da Gronelândia explica em parte este aumento. Mas a Antártica pode tornar-se o principal motor: antes de 2012, o continente branco perdia 76 mil milhões de toneladas de gelo por ano. Desde então, este número disparou para 219 mil milhões de toneladas.
Se o aquecimento fosse mantido a 1,5ºC em relação à era pré-industrial, o nível dos mares subiria entre 26 e 77 centímetros até 2100, segundo projeções da ONU. Com uma temperatura 2ºC mais quente, adicionar-se-iam 10 cm, afetando mais 10 milhões de pessoas.
Sobretudo, a longo prazo, as calotas da Antártica poderão desestabilizar-se com um clima entre +1,5/2ºC mais quente, elevando o nível dos mares em vários metros ao longo dos próximos séculos.
Catástrofes naturais
O aquecimento global está a favorecer, de facto, episódios meteorológicos extremos, particularmente secas e ondas de calor. Até 20 de novembro, a OMM tinha registrado 70 ciclones tropicais em 2018 contra uma média histórica anual de 53.
De acordo com alguns estudos, o número de secas, incêndios, inundações e furacões ligados ao desarranjo do clima duplicou desde 1990.
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas da ONU (IPCC), com +2ºC ocorrerão ondas de calor na maioria das regiões e as precipitações associadas aos ciclones serão cada vez mais intensas. As perdas associadas às catástrofes naturais atingiram 520 mil milhões de dólares anuais e colocariam todos os anos 26 milhões de pessoas na pobreza, segundo o Banco Mundial.
Espécies afetadas
Das 8.688 espécies ameaçadas ou quase ameaçadas, 20% já foram afetadas pelas alterações climáticas. Os recifes de coral sofreram um embranquecimento maciço nos últimos anos e uma mortalidade recorde.
Os cientistas destacam, ainda, uma multiplicação dos episódios de canícula oceânica, o que ameaça os ecossistemas marinhos.
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