A unidade sediada em Vila do Conde aguardava há quatro anos por melhores dias. Apesar de ser o maior hospital do país, no setor privado, não tinha doentes por falta de protocolos com o Estado. Por dia, fazia apenas cerca de 12 exames complementares de diagnóstico.

A comunicação da compra dos HSB surge um dia depois de a Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde ter anunciado "a celebração de um contrato promessa de compra e venda para a aquisição da totalidade do capital social da unidade". Numa curta nota informativa enviada esta tarde pelos HSB, não há referência à existência desse contrato com a Misericórdia vila-condense, falando, apenas, num acordo com o grupo de saúde nortenho.

Trata-se da maior unidade privada de saúde em Portugal, com mais de 550 camas. "Manuel Agonia, fundador e presidente do conselho de administração dos Hospitais Senhor do Bonfim, em conjunto com António Vila Nova, presidente do conselho de administração do Grupo Trofa Saúde, chegaram a acordo quanto à transmissão de 76% do capital dos Hospitais Senhor do Bonfim ao Grupo Trofa Saúde", pode ler-se no comunicado.

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No mesmo texto, também não é mencionado o valor da transação, nem pormenores sobre o futuro dos quase 200 trabalhadores do HSB, havendo apenas uma referência à "continuidade ao projeto". "Os Hospitais Senhor do Bonfim passam a integrar a rede do Grupo Trofa Saúde, dando-se assim continuidade ao projeto e à visão de Manuel Agonia, pioneiro no setor privado da Saúde em Portugal, agora no seio de um grupo de capital 100% português".

Investimento superior a 100 milhões de euros

Os Hospitais Senhor do Bonfim, inaugurados em 2014, surgiram num investimento do empresário da Póvoa de Varzim Manuel Agonia, que aplicou na construção do maior hospital privado do país mais de 100 milhões de euros.

Nos últimos anos, a unidade estava atravessar alguns problemas financeiros, que colocavam em risco o funcionamento do hospital e a manutenção dos postos de trabalho. Na quarta-feira, a Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde tinha anunciado a celebração um contrato promessa de compra e venda para a aquisição da unidade, garantindo ter sinalizado o respetivo negócio, cuja concretização estava prevista para o próximo mês de dezembro.

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Atualmente faziam-se cerca de 12 exames complementares de diagnóstico por dia. O Hospital Senhor do Bonfim foi inaugurado pelo Governo de Pedro Passos Coelho no final de 2014.

Apesar desta unidade ter tecnologia de ponta em exames de diagnóstico, com aparelhos avaliados em mais de 7 milhões de euros, a mesma não chegava às populações do norte do país.

A Póvoa de Varzim e Vila de Conde, dois concelhos do grande Porto, são servidas por um centro hospitalar composto por instalações antigas que, muitas vezes, não conseguem dar resposta às necessidades da população.

A agora antiga administração do hospital procurava dialogar com o Ministério da Saúde desde 2014, na tentativa de estabelecer protocolos, mas o silêncio da tutela manteve-se. "Um silêncio reprovável. Deveria haver diálogo entre as estruturas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e as pessoas responsáveis deste património privado", para "beneficiar os cidadãos", disse José Pavão, diretor clínico da unidade, em declarações à RTP, este mês. Com Lusa