Em 2018, Trump declarou uma política de "tolerância zero" na fronteira com o México, o que levou à separação de centenas de famílias. A maioria delas é formada por centro-americanos que fogem da pobreza e da violência dos seus países.

"As crianças separadas mostraram mais medo, sentimentos de abandono e de stress pós-traumático do que as crianças que não foram separadas" dos seus pais, escreve o inspetor-geral do Departamento de Saúde num relatório sobre as visitas realizadas em meados de 2018 pelas suas equipas a 45 centros de acolhimento para migrantes menores.

"Alguns expressavam uma dor aguda que os fazia chorar sem parar", outros "negavam-se a comer ou a participar das atividades", e os que não entendiam por que estavam separados dos seus pais "sofreram altos níveis de angústia mental", acrescenta o escritório do inspetor-geral, um órgão que supervisiona de maneira independente as estruturas subordinadas ao Departamento.

Segundo o relatório, "a separação de famílias e um processo de reunificação desordenada somou-se ao trauma" dos menores que já enfrentavam abusos, ou violência, nos seus países de origem, ou na rota migratória.

As tragédias sofridas por estas famílias, oriundas principalmente de Guatemala, Honduras e El Salvador, geraram preocupação mesmo nas fileiras do Partido Republicano de Trump. O presidente pôs fim a esta política em junho, enquanto um juiz ordenava a reunificação das famílias divididas.

À época, as autoridades identificaram mais de 2.700 crianças que deveriam ser reunidas com seus pais.

Em paralelo, foram endurecidas as normas para a entrega de migrantes menores a famílias de acolhimento, o que alongou a duração da estadia destas crianças e adolescentes nos centros de detenção. Em novembro de 2018, registou-se um pico de 93 dias em média.

Essa demora gerou "um maior nível de desconfiança, desesperança e frustração entre as crianças, com mais casos de mutilação, ou ideação suicidas", completou o inspetor-geral.

Os profissionais da Saúde disseram sentir-se sem recursos diante da situação, comparando a sua ação a um simples "penso curativo" para feridas profundas.

O relatório propõe o reforço na formação do pessoal e o acesso a psiquiatras externos, assim como de transferência dos casos mais graves para estruturas especializadas.