“Aumentar a literacia alimentar da população portuguesa é uma medida que é urgente e deverá estar claramente na mão do Estado”, disse Alexandra Bento, que falava à agência Lusa a propósito do seminário “Escolhas alimentares informadas e literacia nutricional do consumidor”, que decorre na quinta-feira no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), em Lisboa.

“Se não conseguirmos capacitar a população para escolher bem, combinar bem os alimentos e para os cozinhar de forma adequada, e conseguir desfrutar da comida de uma forma saudável e sustentável, certamente não vamos contribuir para mais e melhor saúde da população portuguesa”, afirmou, defendendo um “maior investimento” nesta área.

Atualmente, há muitos portugueses que têm capacidade, vontade e conhecimento para se alimentarem convenientemente e fazem-no, “mas também há muitos outros que não podem, porque não têm condição económica para o fazer” ou porque “não sabem como se devem alimentar corretamente”.

Para estes, terá de haver “um grande investimento por parte de todos nós, mas claramente por parte do Estado que não se pode demitir desta situação de poder colocar ferramentas, instrumentos e estratégias disponíveis para o cidadão se poder alimentar melhor e ter melhor saúde”, defendeu Alexandra Bento.

“Será desconfortante se pensarmos que muitos portugueses comem mal porque não houve no passado, e continua a não haver no presente, programas que sejam intencionalmente desenhados de educação alimentar em consonância com as grandes mudanças que a sociedade tem tido”, vincou.

Segundo a bastonária, as mudanças que têm existido no sistema alimentar não têm sido acompanhadas de um processo informativo.

“Temos um sistema alimentar, nos dias de hoje, que é complexo, tem muita diversidade e muitos problemas” e, por isso, é necessário “colocar mais informação na mão do consumidor” para poder fazer escolhas alimentares informadas.

Se no passado o problema do mercado português era a falta de sistemas interpretativos, atualmente cada marca ou cadeia parece estar a desenvolver um semáforo nutricional diferente. Acresce a esta situação o facto de cerca de 40% dos portugueses não saberem ler rótulos.

Existe atualmente no mercado rotulagem nutricional com diferentes formatos e cores que visam melhorar a interpretação do rótulo para se fazerem melhores escolhas, o que acaba por não acontecer porque “o consumidor fica muito baralhado na altura da escolha e de verificar essas diferentes rotulagens”.

“A bem do consumidor”, defendeu a bastonária, “o Governo tem que tomar uma decisão que aponte para um esquema único [de rotulagem] no país”, para que este possa conseguir “escolher de forma clara, simples, rápida e eficaz os alimentos que são mais saudáveis”.

Alexandra Bento espera que Portugal siga o exemplo de países europeus que já implementaram um “modelo interpretativo único”, porque, além de ser uma “estratégia promissora” para melhorar a qualidade das escolhas alimentares, “incentiva os fabricantes a oferecerem produtos mais saudáveis”.

“É isto que se espera do Governo, uma tomada de decisão”, disse, lembrando que a Assembleia da República e a DGS já recomendaram ao Governo que avance neste sentido.

“A alimentação é um dos principais fatores de risco modificáveis que mais contribui para a mortalidade e morbilidade dos cidadãos e que, segundo a DGS, em Portugal, os hábitos alimentares inadequados são o terceiro principal fator de risco que mais contribui para o total de anos de vida saudável perdidos”, refere a Ordem dos Nutricionistas.