A história é relatada pela radiotelevisão britânica BBC. Durante 20 anos, Susan Burton passou seis vezes pela prisão por posse de cocaína.

No início dos anos 1980, os Estados Unidos viviam o auge da chamada guerra contra as dependências, com o foco na punição em vez de no tratamento. "Nunca mo ofereceram, e eu não sabia pedir ajuda, porque nem sabia o que pedir. Pessoas da minha cor, que cresceram onde cresci, nunca tinham ouvido falar em reabilitação", recorda Burton na sua autobiografia publicada este mês nos Estados Unidos.

Em 1997, aos 46 anos, esta ex-presidiária conseguiu finalmente tratar-se por conta própria. Desde então, tem-se dedicado a ajudar antigas colegas a recomeçarem a vida e a interromperem o ciclo de pobreza, droga, violação e cadeia.

Vida de tragédia

Susan Burton conhece bem esse ciclo. Nasceu negra e pobre numa comunidade violenta de Los Angeles.

Aos quatro anos começou a ser abusada sexualmente pelo namorado da tia. "Naquela comunidade, sofri todo o tipo de abusos físicos, sexuais e emocionais", descreve aos microfones da BBC.

Porém, o que atirou esta mulher para a espiral de decadência que a levou à prisão foi a morte do filho, Marque Hamilton, aos cinco anos de idade.

Veja ainda: 15 coisas que nos tiram anos de vida

Numa tarde de 1981, Susan Burton estava em casa quando ouviu o som de pneus a derrapar. Correu para a rua e já só encontrou o corpo do filho estendido no chão.

"Comecei a beber para sufocar a dor, a perda, e todos os problemas da minha vida. Passei a drogar-me e as drogas levaram-me à prisão", revela. A sua outra filha, Toni, tinha 15 anos quando o irmão foi morto.

Dificuldades e recaídas

Sempre que era libertada, ainda sem tratamento para o vício ou qualquer apoio, Burton, assim como mais de metade das ex-presidiárias da Califórnia, segundo dados do Governo norte-americano, acabava por sofrer recaídas e regressar à cadeia.

O ciclo do vício e encarceramento só foi quebrado quando, ao sair da prisão pela última vez, recebeu ajuda de uma amiga para se internar numa clínica de reabilitação. "Fiquei internada durante cem dias, recebi todo o tipo de tratamento e fiquei curada", recorda.

Quando deixou a clínica, Susan Burton decidiu que queria oferecer a outras ex-presidiárias o mesmo tipo de apoio. Conseguiu emprego como cuidadora de uma idosa, economizou 13 mil dólares e, em 1998, comprou uma pequena casa.

Mobilou-a com beliches e passou a esperar as antigas colegas de prisão, oferecendo-lhes um lugar para morar.

Hoje, aos 65 anos, Burton tem cinco casas em Los Angeles operadas pela organização que criou, a "A New Way of Life" ("Um Novo Modo de Vida", em tradução livre), pela qual já passaram mais de mil mulheres e crianças. Todos os dias, Susan Burton recebe dezenas de cartas de presidiárias à procura de uma das cerca de 70 vagas anuais.

Além de estadia, as ex-presidiárias recebem assistência legal, emprego, possibilidades de voltar a estudar e a reconquistar a guarda dos filhos. Também são encaminhadas para tratamentos mentais e de desintoxicação.

No livro "Becoming Ms. Burton: From Prison to Recovery to Leading the Fight for Incarcerated Women", escrito conjuntamente com a jornalista Cari Lynn, Burton ressalta que a sua organização gasta 16 mil dólares por ano por mulher, menos de um terço do que os 60 mil dólares gastos por ano pelo Estado para manter cada presidiária em cadeias da Califórnia.