Esta será uma visita muito delicada para a China, interessada em descartar qualquer responsabilidade na pandemia que deixou mais de 1,9 milhões de mortos no mundo. Estava programada para a semana passada, mas foi cancelada no último minuto porque a equipa não conseguiu reunir todas as autorizações necessárias.

Embora Pequim tenha conseguido praticamente erradicar a doença no seu território, não conseguiu evitar as acusações recorrentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de ter propagado o "vírus chinês" por todo mundo, ou mesmo de ter permitido que escapasse de um laboratório de virologia de Wuhan, a cidade do centro do país onde a COVID-19 surgiu no fim de 2019.

A demora da China em aceitar uma investigação independente significa que os primeiros vestígios da infeção serão difíceis de encontrar. "Não sou otimista. Eles viajarão depois da batalha", adverte o especialista em doenças infecciosas Gregory Gray, da Universidade Duke, nos Estados Unidos.

"Será incrivelmente difícil encontrar a origem do vírus", afirma Ilona Kickbusch, do Instituto de Altos Estudos Internacionais e Desenvolvimento de Genebra.

Os cientistas acreditam que o hospedeiro original do vírus foi um morcego, mas desconhece-se o animal intermediário que permitiu a contaminação humana.

A imprensa chinesa insiste cada vez mais na hipótese de que o vírus foi importado, por meio de alimentos congelados, uma tese rejeitada pela OMS.

- Não há culpados -

Para a organização internacional, acusada pela administração Trump de tendências pró-China, não há dúvida de que os seus especialistas terão liberdade para investigar, embora Pequim não tenha confirmado até ao momento que Wuhan está efetivamente no programa da visita.

"A equipa viajará a Wuhan. Este é o objetivo da missão", afirmou em dezembro o diretor de emergências sanitárias da OMS, Michael Ryan.

"Trabalharemos com os nossos colegas chineses. Não serão supervisionados por funcionários chineses", disse.

A missão é integrada por dez cientistas da Dinamarca, Reino Unido, Holanda, Austrália, Rússia, Vietname, Alemanha, Estados Unidos, Catar e Japão, reconhecidos nas suas diferentes áreas de especialização.

"O objetivo não é designar um país ou uma autoridade culpada", disse à AFP um dos membros da equipa, Fabian Leendertz, do Instituto Robert Koch da Alemanha.

"A meta é entender o que aconteceu para evitar que volte a ocorrer", completou.

Se as autoridades obstruíssem a investigação, "isso teria um impacto negativo para a reputação política e científica da China", advertiu Gray.