Se lhe disserem que a epilepsia é uma doença mental, pode contrapor, informando que a epilepsia é antes uma doença neurológica crónica caracterizada pela ocorrência de crises epilépticas recorrentes, não provocadas. 

Pode explicar que as crises epilépticas não são uma possessão demoníaca ou consequência de bruxaria, mas sim o reflexo de uma descarga neuronal anormal e excessiva no nosso cérebro que pode levar a manifestações clínicas diversas, motoras e não motoras, dependendo das áreas cerebrais envolvidas.

Se vir negado um emprego a alguém por causa da sua epilepsia, relembre que cerca de 60 a 70% das pessoas com epilepsia não tem crises quando a toma da medicação é feita de forma regular, sendo as mesmas capazes de ter um desempenho profissional perfeitamente normal, não diferente do seu. É certo que, por vezes, pode existir a necessidade de adequar as condições de trabalho e tarefas às características particulares do tipo de crises, mas isto é a exceção e não a regra. Raras são também as profissões que estão totalmente vedadas a quem padece de epilepsia.

A grande maioria das pessoas com epilepsia não tem um défice intelectual, pode e constitui família, tem hobbies e pode praticar quase todos os desportos e atividades físicas sem limitações ou adquirindo algumas medidas de precaução adicionais.

E embora nem todas as pessoas com convulsões tenham epilepsia, só em Portugal a epilepsia afeta sensivelmente 50 a 60 mil indivíduos, ou seja, um em cada 200 portugueses vai apresentar ao longo da sua vida este diagnóstico. Com dois picos de incidência, a infância e a terceira idade, a epilepsia pode surgir em qualquer altura e afetar qualquer pessoa, não fazendo aceção de classes sociais, sexo ou raça.

O seu diagnóstico é essencialmente clínico, embora muitas vezes suportado pelo eletroencefalograma e outros exames de diagnóstico complementares, como a Tomografia Computorizada ou a Ressonância Magnética de crânio.

Podendo ter uma origem genética, a maioria das epilepsias é adquirida e resultante, entre outras coisas, de traumatismos crânio-encefálicos, tumores, infeções do sistema nervoso, complicações perinatais, doença cerebrovascular ou demência.

O seu tratamento passa primeiramente pelo recurso a medicamentos. No terço de doentes em que a terapêutica farmacológica não controla as crises, devem ser consideradas outras opções como a cirurgia, a neuroestimulação ou, por exemplo, a dieta cetogénica. A avaliação deste grupo de doentes com epilepsia dita refratária deve passar por centros especializados que, no nosso país, existem no Porto, Coimbra e Lisboa.

É fundamental saber do que falamos quando abordamos o tópico Epilepsia. O estigma e discriminação contra as pessoas com este diagnóstico não raramente é tão ou mais danoso que a própria doença,  tendo um impacto muito significativo na qualidade de vida e  bem-estar dos doentes e suas famílias.  

“Dizer não ao estigma” é, por isso, o mote que a LPCE, em sintonia com a International Bureau for Epilepsy (IBE) e a International League Against Epilepsy (ILAE), adotou para o Dia Internacional da Epilepsia deste ano. Seja uma peça ativa nesta campanha. Não se esqueça hoje, nem nunca desta divisa!

Um artigo da médica Rute Teotónio, Neurologista e Presidente da Delegação Centro da Liga Portuguesa Contra a Epilepsia (LPCE).