Num relatório hoje divulgado, sob o título “Para Impedir o Envelhecimento Desigual”, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) explica que a tendência para o agravamento das condições de desigualdade na velhice das gerações mais novas se prende com uma maior esperança de vida, a par de condições mais precárias oferecidas pelo mercado de trabalho e do aumento da desigualdade na distribuição de rendimentos e nos orçamentos familiares.

“Envelhecer de forma desigual é prejudicial para o futuro crescimento económico, sobretudo quando a desigualdade de oportunidades desemboca em privilégio ou exclusão, minando a mobilidade social intergeracional e pondo em causa a coesão social”, lê-se no documento, a que a agência Lusa teve acesso.

Impacto das condições socioeconómicas na longevidade

De acordo com os relatores, novos dados sobre a mortalidade na velhice mostram que as condições socioeconómicas têm maior impacto na desigualdade da longevidade do que antes se verificava.

E também que os problemas relacionados com a desigualdade na velhice são mais agudos em economias emergentes, sendo que muitas delas enfrentam um rápido envelhecimento da população numa fase relativamente embrionária do desenvolvimento, têm maiores desigualdades em matéria de saúde que os países da OCDE e um sistema de proteção social menos eficiente.

Quanto à crescente desigualdade de rendimentos de uma geração para outra, o relatório indica que apesar de, neste momento, na maioria dos países, o rendimento médio das pessoas ser ainda mais elevado do que o das anteriores quando tinham a mesma idade, essa situação já não se verifica para os nascidos de 1960 em diante, quando comparado com o rendimento das gerações nascidas uma década antes.

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“A desigualdade de rendimento na mesma idade tem estado a acentuar-se de uma geração para outra em dois terços dos países, em particular entre os grupos mais jovens, para quem a desigualdade é agora muito mais elevada que para os mais velhos”, sublinham os relatores.

As desvantagens no acesso à saúde, à educação, ao trabalho e a um salário produzem um efeito de dominó e refletem-se no curso da vida das pessoas: em todas as idades, homens e mulheres com problemas de saúde trabalham menos e ganham menos quando trabalham, sendo que, na totalidade da vida laboral, a falta de saúde reduz os rendimentos obtidos em 33% por homens com pouca instrução e em 17% naqueles com instrução superior, ao passo que os efeitos nos rendimentos das mulheres não são tão significativos.

O documento conclui também que as pessoas com baixos níveis de instrução habitualmente se reformam quando atingem a idade de reforma, enquanto as que têm mais instrução tendem a trabalhar para além desse limite etário.

A falta de saúde é um dos fatores que levam os trabalhadores mais velhos a pedir a reforma antecipada, mas, no entanto, a saúde só até certo ponto explica a acentuada queda da taxa de emprego a partir dos 55 anos, o que aponta para a importância de outros fatores, tais como o modo como funciona a formação profissional, o funcionamento dos mercados de trabalho e os sistemas de cálculo das pensões.

Segundo este relatório, a desigualdade de rendimento na velhice e a transposição dessa desigualdade para as pensões varia muito entre países.

Em média, cerca de dois terços da desigualdade nos rendimentos obtidos durante a vida laboral são transpostos para a desigualdade nas pensões – de menos de 25% em muitos países anglo-saxónicos até mais de 85% em cerca de um terço dos países da OCDE.

As pessoas com salários e, depois, pensões menores tendem a ter uma esperança de vida menor do que aquelas que têm rendimentos mais elevados, e isso reduz ainda mais 13% o total das pensões que auferem.

Os autores deste estudo concluíram ainda que a dependência na velhice é sentida de forma mais aguda pelos grupos socioeconómicos mais baixos e que, apesar de ter diminuído o fosso do emprego entre homens e mulheres, persistem “grandes desigualdades entre géneros”, com o pagamento anual de pensões para pessoas com mais de 65 anos a ser, em média, cerca de 27% mais baixo para as mulheres e a pobreza na velhice a atingi-las muito mais que aos homens.