O especialista e membro do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos falou, em entrevista à agência Lusa, do aumento do número de casos de covid-19 na região de Lisboa de Lisboa e Vale e da consequente subida de internamentos e do seu impacto nos serviços de saúde.
Para António Diniz, a subida dos contágios e do número de internamentos em enfermaria e em cuidados intensivos “já era previsível” com o desconfinamento, mas aconteceu “a um ritmo maior do que o esperado”, porque os grupos de riscos, maiores de 60 anos, já estão vacinados.
“A tendência seria para esperar que não aumentasse tanto [o número de casos] e, sobretudo, o número de internamentos e internamentos em cuidados intensivos”, referiu, o que tem levado “inevitavelmente a alguma carga adicional” sobre os hospitais que têm tido necessidade de começar a abrir mais enfermarias.
Contudo ressalvou que, apesar de haver um aumento de incidência da infeção, não tem uma “tradução idêntica” à que existiu na terceira onda da pandemia, no início do ano, em termos de gravidade, internamentos em cuidados intensivos, e mortes.
António Diniz disse, por outro lado, que a vacinação contra a covid-19 selecionou “uma população mais suscetível à infeção”: mais jovem, com mais mobilidade e mais sujeita à fadiga pandémica.
Aliado a esta situação está o facto de Lisboa ser “o protótipo” onde se juntam várias condicionantes que “constituem um caldo para a emergência de novos fenómenos de infeção mais acelerados, por enquanto, que no resto do país”.
No seu entender, esta situação “não é explicável” por festas, casamentos, batizados, que também ocorrem noutras regiões, ou pela diferença de vacinação existente entre a Região de Lisboa e as regiões com maior taxa de vacinação, que são zonas menos povoadas, como o Alentejo ou a zona Centro, que não ultrapassa os seis pontos percentuais
“Não me parece que seja uma justificação plausível estarmos a admitir que, por um acesso de irresponsabilidade, as pessoas só na região de Lisboa e Vale do Tejo é que infringiram as regras de proteção individual e que são regras simultaneamente de proteção coletiva que estão ainda em vigor”, comentou.
Como razões que podem estar na origem desta situação, António Diniz apontou “a vulnerabilidade” que Lisboa apresenta por ser provavelmente “a maior fronteira, nomeadamente aérea, que o país tem”, com voos provenientes de todo o mundo, e ter “uma frequência e uma lotação muito superior” ao resto do país.
Esta região também concentra “o maior número” de comunidades de imigrantes e a multiculturalidade, que é “francamente superior” à existente no resto do país.
Para o especialista, esta “aceleração desproporcionada” de contágios também é justificada pela variante Delta, associada à Índia.
“Os outros fatores podem existir, mas não têm a importância que tem o aparecimento dessa nova variante que eu acho que, hoje em dia, tem provavelmente uma expressão já muito grande em toda a região de Lisboa”, sublinhou.
Estudos realizados, nomeadamente no Reino Unido, apontam que a variante Delta apresenta uma transmissibilidade 60% superior à variante Alpha, associada àquele país, que já era 40% a 50% mais transmissível que a variante original que circulou em Portugal na primeira e na segunda onda da pandemia.
A segunda característica desta variante, que ainda não está completamente estabelecido, é apresentar “alguns sinais” de formas mais graves da doença comparativamente com outras variantes.
Esta variante é também “mais resistente” à vacinação do que a variante inglesa, o que pode explicar porque é que pessoas vacinadas estão a ser novamente infetadas.
Portugal registou na terça-feira mais 973 casos confirmados de covid-19, o número diário mais alto desde o início de março, a maioria (629) em Lisboa e Vale do Tejo, segundo dados Direção-Geral da Saúde, que indicam que o número de internamentos subiu para 346, dos quais 79 em cuidados intensivos.
Desde o início da pandemia, em março de 2020, morreram em Portugal 17.049 pessoas com covid-19 e foram registados 859.045 casos de infeção.
Comentários