Depois da entrada em vigor, em abril de 2018, do regulamento da Comissão Europeia sobre boas práticas no setor da alimentação, a associação Defesa do Consumidor (DECO) decidiu testar com congéneres de nove países - França, Alemanha, Holanda, Noruega, Bélgica, Eslovénia, Dinamarca, Itália e Espanha - mais de 500 produtos disponíveis no mercado. O objetivo? Avaliar o teor de acrilamida em alimentos que fazem parte do consumo diário dos consumidores. A acrilamida é um químico que se forma em certos tipos de alimentos durante a sua preparação a temperaturas elevadas.

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Segundo a DECO, as categorias analisadas em Portugal foram as batatas fritas de pacote, a batata-doce frita, o café torrado moído, as tostas e as bolachas tipo Maria. "Dos 60 produtos testados em Portugal, apenas duas das 15 amostras de batatas fritas analisadas — Spar e Bouton d’Or (Intermarché) — apresentam níveis de acrilamida acima dos valores de referência. Das 12 amostras de bolachas do tipo Maria, as das marcas Sondey (Lidl), Moaçor, Pingo Doce e Continente também apresentavam níveis superiores", explica a DECO.

Nenhuma das amostras de café ou de tostas apresentavam níveis superiores de acrilamida aos recomendados pela regulamentação europeia.

Níveis díspares

A formação da acrilamida depende de uma série de fatores externos. A DECO repetiu os testes em alguns produtos com uma primeira avaliação negativa. "O novo lote de batatas fritas Spar analisado ficou abaixo dos valores de referência. As Bouton d’Or revelaram estar próximas dos limites. O mesmo aconteceu com as bolachas Sondey (Lidl). As do Pingo Doce, pelo contrário, continuaram acima", adverte a associação.

As batatas fritas testadas do Auchan, A Saloinha e Dia revelaram teores de acrilamida próximos dos valores de referência. "Quando testámos um novo lote, as batatas Spar revelaram 590 µg/kg em vez dos 1400 µg/kg registados na primeira análise. No caso das Bouton d’Or, os resultados baixaram de 1200 µg/kg para 780 µg/kg. A batata-doce frita não se enquadra nesta categoria, mas considerámos importante analisá-las. Os níveis variam entre 76 e 3300 µg/kg. Impõe-se, por isso, criar uma nova categoria", frisa a DECO.

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No caso das bolachas Maria do Continente, com níveis acima do desejável, a marca admite que vai mudar a receita de forma a diminuir o açúcar e o aparecimento da acrilamida, informa a associação.

Quatro das 12 marcas avaliadas de bolachas Maria estão acima dos valores de referência: Moaçor, Continente, Pingo Doce e Sondey (Lidl). "Quando repetimos o teste, os teores das bolachas do Lidl baixaram de 500 µg/kg para 370 µg/kg, um valor próximo da referência (350 µg/kg)", declara a DECO numa nota de imprensa.

Em contrapartida, as bolachas do Pingo Doce, inicialmente com 490 µg/kg, continuaram acima (510 µg/kg) dos padrões de referência.

De onde vem a acrilamida?

Em 2002, investigadores suecos descobriram que se formava acrilamida em alguns alimentos ricos em amido e asparagina (um aminoácido), com baixa humidade, quando submetidos a altas temperaturas.

Desde então, a comunidade científica testou milhares de produtos e constatou que a acrilamida surge essencialmente em alimentos fritos, assados e submetidos a temperaturas elevadas, como as batatas fritas, cereais de pequeno-almoço, pão e tostas. O processo ocorre durante a chamada reação de Maillard, responsável pela cor dourada e pelo sabor característicos destes alimentos. Essa substância não se forma, porém, quando os alimentos são cozidos em água ou a vapor.

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Os Estados-membros da União Europeia têm, desde 2007, monitorizado os níveis de acrilamida nos alimentos. Com base nos dados compilados pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), estabeleceram-se valores indicativos para as empresas do setor alimentar. Ainda assim, e de modo a reduzir a presença de acrilamida nos produtos, a União Europeia publicou, em novembro de 2017, um regulamento com medidas baseadas nas boas práticas da indústria.

Embora os elevados níveis de acrilamida nos animais aumentem a probabilidade de cancro, bem como a de mutações genéticas ou de problemas no sistema nervoso, a EFSA admite que os resultados dos estudos a humanos são inconsistentes e limitados. Por se considerar uma substância carcinogénica e genotóxica, não é possível estabelecer uma ingestão diária tolerável ou segura. Por precaução, deve-se, no entanto, reduzir o seu consumo para valores tão baixos quanto possível.