24 de julho de 2014 - 16h22
Mais de mil médicos dentistas portugueses estão a trabalhar no estrangeiro, um aumento de 45% desde o início da crise económica, em 2008, segundo dados deste ano da Ordem que representa estes profissionais.
“O destino dos jovens dentistas portugueses é o desemprego ou a emigração”, lamenta o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva, em declarações à agência Lusa.
Esta é uma tendência que se tem agravado todos os anos e que tem a crise económica como pano de fundo de “um caldeirão” onde também o excesso de médicos dentistas e de cursos de medicina dentária contribui para esta realidade.
A par disto, Monteiro da Silva lembra que em Portugal não existe uma convenção do Serviço Nacional de Saúde com os médicos dentistas, o que faz com que a medicina dentária praticamente só exista para quem pode recorrer ao privado.
“Estou mais preocupado até com o impacto que a crise está a ter na saúde oral dos portugueses. Não tendo uma resposta da parte do Estado, através de uma convenção nacional, deixam de tratar da sua boca e dos seus dentes e isto tem um impacto na saúde geral das pessoas”, afirmou.
Para o bastonário, é urgente tomar medidas no sentido de assegurar que os portugueses tenham direito a cuidados de medicina dentária. O responsável lembra que na Madeira e nos Açores já há mecanismos de reembolso previstos para os utentes que recorrem a tratamentos privados de saúde oral.
Segundo os dados revelados hoje à Lusa pela Ordem, dos 8.147 médicos inscritos, mais de mil já tiveram de procurar emprego noutro país.
Inglaterra e França entre os principais destinos
A maioria (65%) dos que exerce lá foram trabalha em Inglaterra, surgindo França como o segundo destino. Mais de metade dos médicos dentistas emigrados tem entre 26 e 40 anos.
Contudo, o número de médicos inscritos na Ordem dos Dentistas não tem parado de crescer nos últimos 10 anos, à medida que crescem o número de cursos: há sete faculdades portuguesas com 3.000 alunos inscritos em dentária.

Aliás, atualmente há em Portugal um médico dentista para cada 1.296 habitantes, quando o rácio recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de um por cada 1.800 a 2.000 habitantes.
Mas mesmo este rácio é enganador, sublinha o bastonário, porque se calcula que apenas metade dos 1.296 habitantes por cada médico tenham efetivamente acesso a cuidados na medicina dentária privada.
“Como não existem praticamente dentistas nos hospitais ou nos centros de saúde temos o problema de ter muita gente que não tem capacidade económica de aceder ao dentista na medicina privada”, frisou Monteiro da Silva.
O bastonário lembra que não é por haver mais médicos dentistas que as pessoas ficam servidas de melhor forma ao nível da saúde oral, recomendando a criação de uma “convenção nacional para a medicina dentária”.
“É fundamental que o Governo, o Estado, estude fórmulas de selecionar alguns tratamentos fundamentais para ajudar as pessoas a terem acesso à medicina dentária”, defendeu.
Os últimos indicadores avaliados mostram uma melhoria na saúde oral dos portugueses que estão abrangidos pelo programa dos cheques dentista, como as crianças e as grávias.
No entanto, Monteiro da Silva avisa que a generalidade da população tem sentido o impacto da crise ao nível da saúde oral e que pode mesmo haver um “retrocesso grave”.
Por Lusa