Ainda existe algum pudor das mulheres em falarem sobre higiene íntima. Rafaela Miranda, interna de Medicina Geral e Familiar, chama a atenção para a necessidade de as mulheres conhecerem a sua própria anatomia, a importância da manutenção do pH vaginal e da hidratação para um dia-a-dia saudável.

HealthNews (HN) – A higiene íntima é um tema que ocupa uma grande parte da rotina diária das mulheres mas, para algumas, continua a ser um tema tabu. Porquê?

Rafaela Miranda (RM) – Não lhe chamaria “tabu” mas, de facto, ainda existe algum pudor das mulheres em falarem sobre higiene íntima e abordarem este assunto na consulta. Esta circunstância deriva de muitos fatores, desde a educação conservadora às crenças enraizadas. Por outro lado, o facto de as mulheres manifestarem esse pudor, faz com que os homens também o tenham. Não falam uns com os outros, geram-se constrangimentos e inibição mas, de facto, este é um assunto muito importante para o quotidiano de qualquer mulher.

Para as mulheres fazerem uma boa higiene e terem uma relação saudável com o seu corpo, é importante que conheçam a sua anatomia. Têm, por exemplo, uma incidência muito maior de infeções do tracto urinário em comparação com os homens, justamente porque a distância entre a uretra e a vagina, e entre a vagina e o ânus, é muito menor do que no sexo masculino. Além disso, na mulher, a uretra tem um comprimento menor, o que facilita a ocorrência de infeções.

HN – Quais são as queixas que mais ouve na consulta?

RM – Temos as queixas do foro sexual e as infeções vulvovaginais. Estas podem ser causadas por vírus, fungos ou bactérias. É importante sabermos que o pH vaginal varia ao longo da vida da mulher e ao longo do ciclo menstrual. A influência é hormonal.

O ideal seria manter um pH ácido, entre 4 e 5. Qualquer perda deste equilíbrio provoca alterações ao nível da flora vaginal, o que favorece o aparecimento de infeções.

HN – Quais são os cuidados a ter durante a menstruação, depois de manter relações sexuais ou durante tratamentos ginecológicos?

RM – Há cuidados gerais que devemos adotar sempre: higiene da região anogenital, uma a três vezes por dia, dependendo do clima, do biótipo da mulher, da atividade física e de doenças prévias que possam existir.

O tempo de higiene nunca deve ser superior a dois ou três minutos para não provocar secagem excessiva, com abrasão.

A região anogenital deve ser lavada suavemente e devemos escolher sempre um gel com pH ácido. Para evitar as infeções vulvovaginais, como as infeções do tracto urinário, é importante lavar e secar sempre de frente para trás, para não trazer as bactérias em direção à vulva.

HN – Que fatores favorecem o aparecimento de infeções?

RM – Podem ser muitos. Desde o uso de produtos de higiene inadequados – como, por exemplo, produtos de supermercado que, frequentemente, nem têm a indicação do pH, podendo ser mais alcalino -, duches vaginais, lavagens excessivas ou intensas, o uso do penso higiénico diário, roupas justas e apertadas…

HN – Porque motivo é tão importante o equilíbrio da flora vaginal?

RM – A flora vaginal, ou a microflora genital, é constituída por um conjunto de microorganismos que se encontram na vagina. São esses microorganismos que contribuem para manter o pH em níveis ideais e nos protegem. Contudo, podem tornar-se nocivos quando existe uma proliferação de determinado microorganismo, bactéria ou fungo.

HN – Quais os fatores que se devem privilegiar no momento de escolher um produto específico para a higiene íntima?

RM – Em primeiro lugar, os sabonetes em barra não devem ser usados. Não só para a higiene desta região mas também da pele em geral. Em casa, acabam por ser compartilhados por outras pessoas e há sempre o risco de contaminação.

Por outro lado, os sabonetes têm um pH mais alcalino, que os tornam desaconselhados para a zona genital. Vão promover secura, a diminuição da acidez de que falámos, e a desregulação da flora vaginal.

Os sprays, perfumes, talcos, toalhitas, também não devem ser usados porque o objetivo é manter o pH nos valores ideiais.

A hidratação é uma etapa por vezes negligenciada – sobretudo nas mulheres após a menopausa – mas, da mesma forma que existem lubrificantes vaginais, também existem hidratantes vaginais adequados, que vão manter o pH ideal e reduzir a secura.