Em declarações à agência Lusa, a presidente da Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson (APDPk), Ana Botas, reconhece que esta situação “não é de agora”, mas refere que continuam a chegar relatos de doentes que se queixam da “elevada espera” nas consultas de acompanhamento, isto é, as que são marcadas após a primeira consulta de especialidade de neurologia.

Em vésperas do Dia Mundial da Doença de Parkinson, que se assinala na quinta-feira, Ana Botas indica que o encaminhamento para a primeira consulta de neurologia está até um pouco melhor, “com um esforço para se cumprirem” os 120 dias de tempo máximo de resposta garantido.

“Mas as consultas subsequentes deviam ter um espaçamento menor”, refere a presidente da associação, indicando que os doentes de Parkinson têm descompensações e precisam de ajustar a sua medicação.

Segundo a Associação, na teoria o espaçamento entre consultas devia ser entre quatro a seis meses, “mas há casos que demoram cerca de um ano”.

O neurologista Joaquim Ferreira, que é membro do conselho científico da associação, lembra que os doentes de Parkinson devem ser acompanhados por uma consulta específica, com profissionais experientes no acompanhamento destes doentes.

“Há uma recomendação para que sejam seguidos por médicos e outros profissionais de saúde que se dediquem à doença de Parkinson. É diferente do que serem seguidos por uma consulta de neurologia geral”, defende o médico e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa.

Mas Joaquim Ferreira entende que a realidade nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde é heterogénea, com disparidades nos tempos em que os doentes são vistos numa consulta mais específica após a primeira consulta de neurologia.

O médico alerta para outro aspeto que envolve os doentes de Parkinson: o acesso a cuidados multidisciplinares, como fisioterapeutas ou terapeutas da fala, é “ainda escasso e com grandes assimetrias no país”.

Atualmente, as recomendações internacionais indicam que os doentes devem ser acompanhados por equipas multidisciplinares, onde tenham acesso facilitado a fisioterapeutas, terapeutas da fala ou outros profissionais.

“São raros os serviços de neurologia em que os doentes têm esse acesso da forma mais adequada, que é no mesmo espaço físico (no mesmo hospital ou centro)”, explica o neurologista à Lusa.

Joaquim Ferreira considera ainda que em Portugal apenas cerca de um terço dos que seriam candidatos estão a ser submetidos a estimulação cerebral profunda, uma cirurgia que pode ser uma opção de tratamento para doentes para quem a medicação já não é eficaz.

O especialista diz que esta opção servirá apenas cerca de 5% dos doentes de Parkinson numa fase mais avançada da doença.

Não se trata de uma técnica inovadora e já se faz em vários centros hospitalares “com elevada competência”.

“Os centros deparam-se é com um problema de alocação de recursos humanos. Há muitos doentes que seriam seguramente candidatos a serem operados e que estão em lista de espera”, explica.

Joaquim Ferreira indica que há cerca de 850 já operados em Portugal e estima que sejam submetidos a essa técnica 80 pessoas por ano, quando as estimativas apontam para que 200 doentes por ano necessitariam da estimulação cerebral profunda.

Em Portugal existirão entre 18 a 20 mil doentes de Parkinson e todos os anos são identificados cerca de dois mil novos casos.

A doença pode manifestar-se com vários sintomas, entre eles sintomas motores, como lentidão de movimentos, rigidez muscular, tremor e alterações de postura.

A agência Lusa tentou obter dados oficiais sobre os tempos de espera das consultas de seguimento.

Contudo, não existem dados específicos por patologia, como a doença de Parkinson, além de que apenas há dados centralizados em relação a primeiras consultas.