24 de janeiro 2013 - 17h33
A Associação Todos com a Esclerose Múltipla (TEM) pediu esta quinta-feira esclarecimentos à Ordem dos Médicos sobre a “desigualdade” que existe no tratamento destes doentes e apelou à tomada de uma posição para acabar com a situação.
Numa carta enviada hoje ao bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, o presidente da associação refere que, desde 2011, a associação está à espera de uma resposta ou parecer do Colégio de Neurologia da OM sobre o tratamento aos doentes de Esclerose Múltipla (EM).
“Existe desigualdade entre doentes, independentemente do hospital em que estão a ser tratados e em especial para os novos doentes. Todos os tratamentos de primeira linha são diferentes pelo que o acesso ao tratamento não deverá ser restrito, permitindo a individualidade do tratamento”, escreve Paulo Alexandre Pereira, aludindo à suspensão de alguns medicamentos para o tratamento daquela doença degenerativa no Centro Hospitalar de São João, no Porto.
Adianta ainda que os neurologistas de EM estão a fazer o que podem para que os doentes não fiquem sem nenhuma medicação, mas “infelizmente, não está nas mãos dos médicos decidir qual a melhor medicação e a mais adequada a dar aos doentes, mas sim aos conselhos de administração” dos hospitais.
“Os neurologistas do Colégio de Especialidade da OM e a Ordem estão à espera que substituam todos os medicamentos de EM por um único, o mais barato? Será que está a funcionar o Colégio de Especialidade de Neurologia", questiona.
Contudo, a 15 de janeiro, a OM enviou uma resposta ao presidente das TEM, assinada pelo bastonário, a explicar que o Conselho Diretivo do Colégio de Neurologia se tem “mantido à margem dos afloramentos de alarme social” relacionados com a suspensão de um medicamento para a esclerose múltipla no Centro Hospitalar de São João (CHSJ), por “dever de reserva em relação ao Conselho Nacional Executivo”.
“A avaliar pelas notícias e pelos comunicados, o modo como o CHSJ determinou a suspensão do medicamento poderá não ter primado pela elegância. Mas na nossa perceção, a segurança e a eficiência terapêutica não foram comprometidas. Não recebemos queixas de médicos, nem de doentes”, refere a nota da OM.
A OM refere que “os doentes deverão entender-se com os seus médicos neurologistas (altamente diferenciados nesta doença). Em nossa opinião, a transferência da relação médico-doente para a praça pública não nos parece razoável”.
Em declarações à Lusa, o presidente da TEM lamentou esta posição e, por isso, decidiu pedir mais esclarecimentos à Ordem.
A OM disse que vai ser ouvida, a este propósito, numa comissão parlamentar e que “não diz nada enquanto as coisas estiveram a ser discutidas na praça pública".
Paulo Pereira sublinhou que “há hospitais que não estão a disponibilizar toda a medicação aos doentes, a melhor e a mais adequada”.
“Em agosto de 2011, o hospital de Braga pôs um medicamento único aos novos doentes. Todos os outros doentes continuaram com toda a medicação. Não estamos aqui num princípio de igualdade e equidade”, acrescentou.
Em outubro de 2012, “o Hospital de São João, por birra com o laboratório, suspendeu dois dos três interferões”, lamentou.
Em novembro, a diretora clínica do S. João, Margarida Tavares, garantiu que "o princípio ativo dos medicamentos é o mesmo e não há nenhuma evidência neste momento que permita afirmar que são diferentes".
O HSJ informou recentemente ter pedido à Inspeção-Geral de Atividades em Saúde uma auditoria aos procedimentos que adota para tratar a esclerose múltipla.
Lusa