O número de portugueses com doenças do foro psiquiátrico aumentou no último ano, devido à degradação económica e social, e o Sistema Nacional de Saúde (SNS) "não está" preparado para esse crescimento, disse hoje à Lusa o psiquiatra Daniel Seabra.

"Temos assistido a um aumento preocupante de patologias do foro mental, porque as circunstâncias de crise em que vivemos refletem-se na vida das pessoas, desencadeando reações a essas dificuldades", disse o clínico que preside às 15.ªs Jornadas de Saúde Mental do Algarve que decorrem entre hoje e sábado, em Carvoeiro, no concelho de Lagoa (Algarve).

Segundo aquele responsável, existem todos os meses dezenas de novos casos de perturbações mentais, resultantes de estados "de angústia, ansiedade e depressão" em pessoas cujas condições sociais se agravaram.

Daniel Seabra manifestou-se preocupado com "um crescimento acentuado para o qual o Sistema Nacional de Saúde não está preparado".

"Não estão reunidas as condições que permitam tratar um doente mental nas mesmas condições de doentes com outras patologias, apesar dos esforços feitos com a integração dos centros de saúde mental nos departamentos de psiquiatria dos hospitais", observou.

"Gostava de ver uma maior humanização e apoio para os doentes do foro mental, para que não fossem parentes pobres do Serviço Nacional de Saúde", sublinhou.

Para Daniel Seabra, "ainda há muito para fazer, no progresso da criação e ampliação de estruturas de apoio e tratamento da saúde mental".

"Apesar do Ministério ter feito cortes para reduzir o desperdício e melhorar o rendimento das estruturas de saúde, ainda não vi quaisquer progressos", destacou.

"Há inspeções, relatórios, mas nem sempre há medidas que corrijam e limitem esses gastos e desperdícios", concluiu.

Nas 15.ªs Jornadas de Saúde Mental do Algarve, subordinadas ao tema "Regresso ao Futuro", entre hoje e sábado, participam cerca de uma centena de especialistas nacionais e internacionais.

27 de abril de 2012

@Lusa