O que é a Doença de Crohn e qual é o seu impacto na vida dos afetados?

A Doença de Crohn é um dos tipos de Doença Inflamatória Intestinal e afeta atualmente cerca de 73.000 portugueses. Nesta condição, o sistema imunitário encontra-se alterado, o que faz com que este ataque o próprio organismo, em vez de o defender das infeções, como seria a sua função. Neste caso, qualquer parte do tubo digestivo pode ser afetada, desde a boca até ao ânus. Ainda assim, os locais mais comuns são a parte final do intestino delgado e o intestino grosso. Quando o sistema imunitário erradamente reconhece o tubo digestivo como sendo “uma ameaça”, ataca-o, causando inflamação que pode levar ao desenvolvimento de úlceras.

Apesar de afetar igualmente homens e mulheres, atingindo todas as idades, esta é uma doença especialmente frequente em jovens entre os 15-35 anos em plena fase de vida ativa, tendo por isso impacto a nível das relações pessoais, profissionais e absentismo laboral.

Quais são as causas desta doença?

As causas da Doença de Crohn ainda não se encontram bem estabelecidas. No entanto, existem vários fatores que podem contribuir para o seu desenvolvimento. Sabe-se, por exemplo, que ter familiares com esta doença aumenta o risco de a desenvolver.

Esta doença afeta maioritariamente jovens entre os 15 e os 35 anos, porquê?

Esta doença distribui-se uniformemente entre os sexos e costuma afetar pessoas jovens, com um pico de incidência entre 15 e 35 anos de idade. No entanto, pode ocorrer em qualquer idade, sendo que aproximadamente 10% dos casos ocorrem em menores de 18 anos, havendo ainda um segundo pequeno pico em pessoas entre os 50 e os 70 anos.

Como é realizado o diagnóstico?

Após o estudo do historial clínico do doente e da sua família, são necessários exames médicos, nomeadamente exames endoscópicos (ileocolonoscopia e endoscopia) e/ou imagiológicos (tomografia computorizada e ressonância magnética). Os primeiros têm a limitação de não permitirem a observação da totalidade do intestino delgado, isto porque a endoscopia permite observar a parte alta do aparelho digestivo (esófago, estômago e duodeno) e a colonoscopia permite observar o intestino grosso e uma curta extensão do final do intestino delgado. Já os exames imagiológicos, apesar de avaliarem o intestino delgado, não observam a sua parte interior e submetem o doente a radiação (tomografia computorizada).

Recentemente, foi desenvolvido um novo exame, denominado de videocápsula endoscópica, que complementa os exames acima referidos, ajudando assim no diagnóstico e monitorização da doença.

O que é que esta vídeo-cápsula veio mudar no diagnóstico desta doença e como é que funciona?

A videocápsula endoscópica é um exame simples e fácil de realizar: após a realização de uma preparação de limpeza intestinal semelhante à da colonoscopia, é necessário deglutir uma pequena cápsula com duas câmaras incorporadas que percorre todo o tubo digestivo enquanto grava um vídeo, que é posteriormente descarregado e visualizado pelo médico Gastrenterologista. A cápsula é posteriormente eliminada nas fezes. Trata-se de um exame seguro e com poucos riscos associados.

A videocápsula possibilita assim a visualização direta de todo o tubo digestivo, de forma pouco invasiva e sem recurso a radiação, permitindo não só ajudar no diagnóstico, como também monitorizar a atividade da Doença de Crohn e guiar o tratamento a adotar. Esta é uma tecnologia já estabelecida na prática clínica e disponível em Portugal. A decisão dos exames e tratamentos a realizar deve sempre realizada de forma conjunta entre o médico e o doente.

Depois de ser realizado o diagnóstico, como é feito o tratamento? Este é dificultado pelo diagnóstico tardio?

Neste momento, ainda não existe cura para esta doença. Existem, contudo, vários tratamentos, inclusivamente cirurgia, que permitem melhorar as queixas e induzir a remissão por um longo período de tempo, oferecendo aos doentes mais qualidade de vida. Para o fazer, deve ser realizado um diagnóstico precoce, por forma a adotar a melhor estratégia terapêutica para cada caso.

Não tendo cura, quais são os benefícios do tratamento?

Os sintomas mais frequentes da Doença de Crohn são a dor abdominal, diarreia crónica (que dura há mais de 1 mês), perda ponderal não intencional, fadiga e lesões na região perianal, como fissuras, fístulas ou abcessos. Também podem ocorrer sintomas não relacionados com o aparelho digestivo, como dores nas articulações e lesões da pele. É frequente haver um atraso no diagnóstico, que pode durar quase dois anos e atrasa o início de tratamento eficaz, podendo levar a doença mais complicada.

Através do tratamento adequado, é possível melhorar significativamente as queixas dos doentes. Além disso, pode induzir-se a remissão por um longo período de tempo, o que significa que os doentes conseguem usufruir de uma melhor qualidade de vida.