A crise pode levar os doentes bipolares a procurar mais o médico porque vão “descompensar mais”, mas não aumentará a prevalência da doença, que afeta 600 mil portugueses, segundo a vice-presidente da Sociedade de Psiquiatria e Saúde Mental.
“Esta doença tem um componente biológico importante, a sua prevalência tem sido mais ou menos constante ao longo do tempo e não é tão dependente de fatores externos como são outras patologias psiquiátricas”, explicou à agência Lusa Luísa Figueira.
Contudo, episódios da doença podem ser precipitados com problemas que afetam o dia a dia destes doentes.
“A doença já existe nas pessoas, elas estão equilibradas, mas o facto de terem estes traumas e esta ansiedade ligada à crise económica podem precipitar episódios da doença”, sustentou Luísa Figueiras, que falava a propósito do XIII Simpósio Internacional de Doença Bipolar, que decorre na sexta-feira e no sábado em Lisboa.
Os especialistas prevêm que “vão haver mais doentes com doenças bipolar a procurar o médico porque vão descompensar mais”.
Segundo Luísa Figueiras, a doença bipolar tipo um, a mais grave, afeta entre um e dois por cento da população e a tipo dois pode chegar aos quatro por cento.
“Há formas menos atenuadas da doença que podem chegar aos 6%”, disse a psiquiatra, sublinhando que “é uma doença bastante prevalente”.
A doença bipolar caracteriza-se por variações acentuadas do humor, com crises repetidas de depressão e “mania”. Qualquer dos dois tipos de crise pode predominar numa mesma pessoa sendo a sua frequência bastante variável. As crises podem ser graves, moderadas ou leves.
Mas nem sempre o diagnóstico é fácil de fazer: “Às vezes demora-se alguns anos para perceber que o doente é bipolar, principalmente a doença tipo um, mas os clínicos em Portugal estão preparados para diagnosticar esta doença”, adiantou.
Mas os bipolares apresentam “um risco enorme” de deixar de tomar os medicamentos: “Estes doentes estão conscientes, lúcidos na maior parte do tempo e, como se sentem bem, tendem a abandonar a medicação”.
E o abandono da medicação aliado à falta de disciplina destes doentes para terem um horário certo para dormir e comer são “fatores negativos” e que podem precipitar episódios da doença.
Por outro lado, alertou a médica, o aumento dos preços dos medicamentos, nomeadamente anti-depressivos, anti-psicóticos e estabilizadores de humor também pode agravar esta situação.
Luísa Figueiras salientou que o papel da família e dos amigos dos doentes é “muito importante” para detetar os primeiros sintomas de uma crise, alertando que a bipolaridade “é uma doença com alto risco de suicídio”.
A grande maioria dos doentes bipolares consegue fazer uma vida normal, desde que adira à medicação, cumpra os tratamentos e viva com familiares.
“Os que vivem sozinhos aguentam-se pior, largam os medicamentos, ficam um bocado em roda livre e é mais difícil”, comentou.
20 de outubro de 2011
Fonte: Lusa
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