Sigmund Rascher era um dos muitos médicos ao serviço da Alemanha nazi. Tal como o clínico Erich Wagner, Rascher também torturou centenas de pessoas nas suas experiências alegadamente científicas. Pelo menos 100 sucumbiram às suas mãos no campo de concentração de Dachau, nas imediações de Munique.

Relatam os documentos agora estudados pela Universidade de Harvard que este médico e a sua equipa submergiam prisioneiros de guerra em água gelada na tentativa de estudar os efeitos do frio no corpo humano. As principais vítimas das experiências tétricas eram russos e judeus.

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O objetivo último era encontrar respostas que pudessem ajudar os pilotos alemães que caíssem nas águas geladas do Mar do Norte a sobreviver mais tempo, escreve o jornal El País.

"Assim que a temperatura do corpo atinge os 28 graus, os sujeitos morrem invariavelmente, apesar das tentativas de reanimação", escreveu Rascher num diário onde ia apontando as suas "experiências científicas" e que está a ser digitalizado em conjunto com outros documentos por investigadores de Harvard.

O médico nazi também simulava, em câmaras de descompressão, quedas-livres em direção ao mar. Muitas das cobaias morriam aos gritos e com espasmos durante as simulações. Quando não morriam eram colocadas imediatamente dentro de um tanque de água gelada para que o seu comportamento corporal fosse monitorizado.

"As experiências nazis nada têm de científico. São muito mais semelhantes às torturas que crianças estúpidas fazem aos animais do que a qualquer coisa que um investigador sério se proponha fazer", comenta Tobias Mattei, da Universidade de San Luis nos Estados Unidos.

Sigmund Rascher tinha 32 anos quando um dos mais famosos nomes do regime, Heinrich Himmler, o encarregou de conduzir experiências com os prisioneiros de Dachau.

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Em cartas, o especialista relatava aquele líder nazi os seus resultados: "Até hoje, arrefeci cerca de 30 pessoas deixando-as nuas ao ar livre durante um período de 9 a 14 horas, até atingirem uma temperatura corporal entre os 27 e os 29 graus. Tirei-os do frio uma hora, mais ou menos o tempo que eu prevejo que possa durar o transporte de um soldado até um local quente, e depois dei-lhes um banho quente", lê-se num estudo já publicado por um consórcio de universidades dos Estados Unidos e Brasil.

Sigmund Rascher acabou por ser vítima do próprio regime. Foi morto no campo de concentração onde trabalhou, em Dachau, depois de ter sido descoberto que tinha comprado ou roubado os seus três filhos.