A infertilidade é mais frequente do que se pensa. Pode afetar cerca de 10 a 15% dos casais e 30% dos casos estarão relacionados com causas femininas, outros 30% com causas masculinas, 20% com causas mistas e outros 20% inexplicados. Graças às dadoras de óvulos, muitas destas mulheres e destes casais podem optar por receber ovócitos e, assim, cumprir o desejo da maternidade.
Podem ser várias as razões que levam uma mulher a recorrer a dadoras de ovócitos: mulheres em idade reprodutiva avançada, mulheres com falência ovárica devido a menopausa, falência ovárica prematura, cirurgia aos ovários, má qualidade dos gâmetas, doenças hereditárias que não podem ser detetadas através das técnicas de DGP (Diagnóstico Genético Pré-implantação) ou mulheres com insucesso repetidos de fertilização in vitro, abortos de repetição, ou alterações cromossómicas, entre outras causas.
Um ato seguro e recompensado
A doação de óvulos, apesar de ser um ato voluntário e generoso é recompensado. As dadoras de óvulos têm direito a uma compensação económica de 878 euros. Um valor que está relacionado com o reembolso das despesas efetuadas e dos transtornos e do tempo dedicados com a dádiva. Os termos estão fixados no Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA), de acordo com o previsto no nº3 do Artigo 22 da Lei 12/2009, de 26 de março e no Despacho nº3192/2017 publicado no Diário da República, 2ª série – Nº75, 17 de abril de 2017.
A doação de óvulos cumpre uma série de requisitos para garantir segurança tanto para a mulher que recebe como para a dadora. São elegíveis para a doação a mulheres com idades entre os 18 a 34 anos. Para além de uma avaliação psicológica, é realizada também uma avaliação ginecológica detalhada gratuita que pode ser muito útil quando estas mulheres decidirem, elas próprias, serem mães. Esta avaliação é importante para recolher informação sobre a fertilidade da dadora e estado de saúde geral.
O exame ginecológico completo que permite despistar a presença de quistos, miomas, pólipos e outras alterações do aparelho reprodutor. Para além disso, realiza-se um estudo cromossómico e um teste de mutações genéticas que elimina futuras anomalias nos próprios bebés ou nas recetoras de ovócitos. Confirma-se a ausência de doenças transmissíveis como o VIH, a hepatite, a sífilis.
Em que consiste o tratamento para a doação de óvulos?
Para concretizar a doação é necessário estimular os ovários com uma medicação injetável que pode ser feita pela própria dadora. A estimulação ovárica dura cerca de 12 dias e termina com o procedimento de recolha dos óvulos- punção ovárica, através de uma ecografia e sob anestesia ligeira.
Os efeitos secundários são muito raros. Geralmente, o processo de doação de óvulos é tolerado pelas mulheres de forma satisfatória. Em todo o caso, a mulher terá sempre acompanhamento médico.
Outras duas grandes dúvidas em relação à doação prendem-se com a toma de anticoncecionais e a manutenção de relações sexuais durante o tratamento. Como o tratamento de estimulação ovárica consiste em conseguir que o ovário produza mais óvulos não se podem tomar anticoncetivos nesta fase. Não é recomendável manter relações sexuais desde que começa a estimulação ovárica até à nova menstruação depois da punção folicular, tanto pelo risco de gestação múltipla como pelo risco de torsão ovárica. Todas estas questões serão explicadas em detalhe às dadoras.
A ovodoação dá oportunidade às mulheres, que não podem ter filhos com os seus próprios gâmetas, de os ter com recurso a óvulos de dadora. Estes juntamente com os espermatozoides do companheiro, ou com recurso a um banco de sémen, no caso das mulheres solteiras ou casais de mulheres, vão originar embriões.
Um artigo da médica Catarina Godinho, ginecologista e especialista em Medicina da Reprodução do IVI Lisboa.
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