Atualmente, os Dispositivos de Perfusão Subcutânea Contínua de Insulina (vulgarmente conhecidos por bombas de insulina) são comparticipados sem limite de número de disponibilização para pessoas até aos 18 anos, e em número limitado para as restantes. Segundo um relatório divulgado pela Associação Diab(r)etes, grupo que trabalha para enriquecer o desenvolvimento das pessoas com diabetes, a comparticipação para adultos, aprovada no passado dia 4 de fevereiro pela Assembleia da República, contribuirá para a redução das hospitalizações motivadas pela diabetes, derivada de uma utilização generalizada das bombas de insulina, o que até agora não acontecia por motivos de custo e de adesão à terapêutica.

Devido à diabetes morrem mais de 4000 portugueses, são realizadas cerca de 1500 amputações dos membros inferiores e ocorrem mais de 7000 casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Em 2015 (último ano do qual se conhecem estes dados), o custo com a diabetes relativamente a hospitalizações devido a hipoglicemias, hiperglicemias e outras complicações ascendeu a mais de 400 milhões de euros em Portugal. Avançar com a comparticipação de bombas de insulina levará à redução desta despesa e à melhoria das condições de saúde dos doentes.

Em Portugal, o número de bombas de insulina disponibilizadas pelo Serviço Nacional de Saúde tem ficado muito aquém do necessário. Até hoje, e tendo em conta o triénio 2017-2019, foram disponibilizadas 300 bombas de insulina para adultos elegíveis, 90 para mulheres grávidas ou em preconceção e para todas as crianças elegíveis com idade até 18 anos. Apesar de não existirem certezas acerca do número de pessoas com diabetes tipo 1 em Portugal com mais de 18 anos, pensa-se que sejam cerca de 40 mil. Com a disponibilização de apenas 100 bombas de insulina por ano, como ocorreu até ao momento, a percentagem de pessoas que não usufrui desta tecnologia é muito grande. Seriam necessários 400 anos para suprir essa necessidade, à luz das condições atuais.

Vários estudos demonstram que a utilização destes dispositivos são uma mais valia do ponto de vista do doente, assim como das finanças públicas. Esta abordagem terapêutica proporciona uma assinalável melhoria da qualidade de vida dos doentes, como a redução do número de injecções diárias, passando a ser uma de 3 em 3 dias em vez de 7 a 10 diariamente; a redução da fobia às agulhas em crianças, adolescentes e adultos, aumentando a adesão à terapêutica; ou a melhoria do tratamento quando há doentes a exercer funções profissionais que exigem trabalho por turnos ou horários irregulares, nomeadamente horários de trabalho noturnos.

A não utilização das bombas de insulina pode ter consequências negativas a longo prazo. Não usufruindo do dispositivo, os utentes recorrem a dois tipos de insulina para a gestão da sua diabetes: a lenta e a rápida. Por vezes, acontecem trocas por erro entre as doses de insulina lenta e as de insulina rápida no momento da autoadministração. Se no momento de autoadministrar insulina rápida forem dadas as doses da insulina lenta, isto constitui sérios riscos, nomeadamente de perigo de morte, caso essa troca não seja imediatamente detetada. Mesmo quando é detetada, grande parte das vezes passa por uma ida às urgências. Isso demonstra a falibilidade da utilização de canetas de insulina.

Com a utilização de uma bomba de insulina, a insulina utilizada é do tipo rápida e é possível estabelecer limites às unidades que o dispositivo administra, fazendo com que o risco associado à troca das canetas desapareça, assim como o de algumas complicações futuras. Adicionalmente, os estudos revelam que a utilização de bombas de insulina leva a que as hipoglicemias sejam menos frequentes.

A diminuição das complicações futuras tem também um efeito direto nas finanças públicas. A curto prazo os custos podem ser até ligeiramente mais elevados aos da terapêutica com canetas de insulina. Mas é de assinalar que a utilização de bombas de insulina tende a levar à redução de custos a longo prazo. A utilização destes dispositivos traduz-se numa redução das hipoglicemias e num melhor controlo glicémico, e desta forma as complicações a longo prazo diminuem, o que constitui poupança por parte do Serviço Nacional de Saúde.

As bombas de insulina, como a Accu-Chek Combo, permitem um melhor ajuste do dispositivo médico ao paciente, pelo que as diversas soluções no mercado deverão ser consideradas no alargamento da comparticipação de bombas de insulina a maiores de 18 anos. Em nome de uma melhor qualidade de vida das pessoas com diabetes e do combate efetivo de uma das doenças que mais afeta os portugueses.

Um artigo de opinião de Sérgio Louro, Presidente da Associação Diab(r)etes.