E&O - Qual a importância de existir uma data como o Dia Mundial da Prevenção do Afogamento para alertar para eventuais riscos?
APSI - Estas datas, celebradas a nível mundial, são sempre importantes para alertar para problemas que exigem um olhar multidisciplinar na sua resolução. Os afogamentos são um problema grave de saúde pública, tanto a nível mundial como europeu, com uma tendência de aumento do número de casos, em alguns países, desde 2020. Além das cerca de 236.000 anuais em todo o mundo, não podemos esquecer que milhares de pessoas ficam com incapacidades definitivas resultantes de afogamentos não fatais.
E&O - Em Portugal, o afogamento é a segunda maior causa de morte acidental nas crianças. Porque creem que isto acontece?
APSI - O afogamento é silencioso e rápido, acontece em muito pouca água e, por vezes, com os adultos por perto. Os educadores não têm consciência destas características do afogamento e, sobretudo nos ambientes que lhes são familiares, têm dificuldade em reconhecer o risco deste acontecimento trágico.
Todos os anos nascem novas famílias que precisam de ser alertadas para os acidentes, desde os primeiros dias ou meses de vida. No caso dos afogamentos, sabendo-se que 80% dos casos podem ser evitados, é fundamental saber como acontecem nas diversas faixas etárias, assim como quais são as estratégias de prevenção mais adequadas para cada idade.
E&O - Como é que a APSI tem vindo a atuar para prevenir estas situações?
APSI - Desde 2003, com o lançamento da 1.ª Campanha de Prevenção de Afogamentos, que a APSI tem vindo a levar a cabo campanhas anuais. Os cidadãos em geral têm sido informados para o que está nas suas mãos fazerem, como podem melhorar o ambiente em que vivem ou alterar alguns dos seus comportamentos.
A nível político, também tem havido alertas permanentes para a necessidade urgente de criar uma legislação aplicável a todo o tipo de piscinas, que inclua vários requisitos de segurança relacionados com a sua construção, operação e manutenção. Isto a par de recomendações para incluir nos currículos escolares a aprendizagem da natação, a educação para a segurança na água e o salvamento aquático seguro.
E&O - Por vezes, falta informação sobre a problemática do afogamento da parte dos pais. Como chegar a eles?
APSI - A imagem do ursinho afogado, utilizada em todas as Campanhas de Prevenção de Afogamentos, tem tido um forte impacto nos pais e outros cuidadores. Além disso, muitas entrevistas e artigos divulgados pela APSI e pelos seus parceiros também são alertas importantes. Os relatórios em que são compilados e analisados os dados anuais fazem um ponto de situação e trazem para a ordem do dia este tema na altura do verão, em que é mais provável um aumento no número de casos.
E&O - Como alertar os mais novos para o risco de afogamento, sem alarmismos?
APSI - Os pais devem ir alertando as crianças e os jovens à medida que vão crescendo, nas situações do dia a dia, de forma adaptada à sua idade e fase de desenvolvimento, explicando os riscos e consequências. Todos os adultos devem dar o exemplo de comportamentos corretos e explicar os porquês, para que os mais novos compreendam e criem hábitos seguros que também transmitem aos seus pares.
E&O - Chamar a atenção dos mais novos para os afogamentos é uma tarefa não só de pais, mas também de escolas. Que responsabilidades competem a um e ao outro?
APSI - Além dos pais, as escolas, os clubes desportivos, agrupamentos de escuteiros ou outros têm um papel a desempenhar, promovendo o debate de temas tão importantes como este, desde cedo. As aulas de adaptação ao meio aquático e mais tarde o ensino da natação, os cursos de primeiros socorros e o ensino de técnicas de salvamento aquático são importantíssimos. Visto que a morte por afogamento é muito rápida, a APSI recomenda os Cursos de Suporte Básico de Vida, nomeadamente ao nível do 3º ciclo do ensino básico.
E&O - Ao refletir sobre o afogamento, não se pensa, de imediato, nos banhos. Quais os riscos associados a esta situação?
APSI - Os banhos representam um risco diferente consoante a idade. As crianças até aos 10 anos afogam-se sobretudo em ambientes construídos – piscinas, tanques de rega e poços. Os bebés e as crianças até aos 3 anos podem ainda afogar-se em banheiras, baldes, alguidares ou piscinas insufláveis.
Os afogamentos em adolescentes e jovens acontecem em cursos de água naturais, mais profundos, escuros e agitados. Podem estar associados a comportamentos pouco seguros, pelo que é fundamental renovar todos os anos o desenvolvimento de iniciativas nacionais, os locais de sensibilização da população e a formação de profissionais na área da segurança na água.
E&O - O verão é uma altura de riscos acrescidos. Quais os diferentes cuidados que se deve ter na praia e na piscina?
APSI - Muitos afogamentos acontecem em zonas não vigiadas. Por isso, é fundamental sensibilizar a população para a escolha de praias marítimas ou fluviais vigiadas, respeitar a sinalética existente e seguir as orientações dadas pelos profissionais presentes.
Relembrar ainda a importância da utilização de coletes salva-vidas homologados para a atividade em questão e adequados ao peso do utilizador. As famílias, sobretudo as que têm crianças pequenas, devem garantir que a casa ou o local de férias possui uma vedação bem construída à volta de piscinas e tanques, que impeça o acesso da criança à água.
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