A dissolução da Assembleia da República, anunciada com meses de antecedência, criou uma situação sem paralelo de campanha política permanente. Durante meses, várias promessas foram feitas aos trabalhadores da saúde como um todo, e aos enfermeiros em particular. Mas as expetativas foram criadas apenas para serem desfeitas.
Logo após a tomada de posse, o primeiro-ministro anunciou que sim, iria negociar e resolver conflitos laborais, mas apenas na educação e forças de segurança. O programa de governo confirmou que a afirmação de Montenegro não tinha sido nenhum lapso. Para a saúde o governo tem previsto apenas motivação. Carreiras e salários ficariam para as calendas.
No final do mês de abril foram votados vários projetos de lei relacionados com a enfermagem. Todos reprovados, com a exceção de um que apesar de justo, era o que apresentava o mais curto alcance, tanto de impacto como de número de profissionais abrangidos. A esperança de uma evolução das condições laborais da profissão morreu nesse dia.
O maior grupo profissional da saúde merecia mais respeito e consideração. Em vez disso, foi tratado como um adereço eleitoral para rapidamente ser descartado. A enfermagem precisa de muito mais que apenas salários e carreiras. Precisamos de dar resposta a questões como a conciliação da vida profissional e pessoal, a democratização dos locais de gestão e uma aposta forte na formação de novas competências.
É igualmente importante lembrar, neste dia, outra das nossas enormes lacunas: redefinição dos papéis sociais da saúde. Portugal continua na cauda da OCDE neste capítulo. Somos constantemente criticados pelo skill mix que apresentamos nas profissões da saúde. Somos ineficientes e não maximizamos o potencial de servir o cidadão, porque estamos presos a amarras corporativas.
É urgente abordar e resolver as questões relacionadas com as dotações seguras. Serviços com enfermeiros suficientes são mais seguros, prestam cuidados com melhor qualidade e satisfação para o cidadão. São igualmente serviços mais eficientes, pois os doentes não só têm alta mais cedo, como em melhores condições de saúde e literacia.
É urgente avançar com mais do que apenas bons discursos neste dia. É necessário ouvir e dialogar com os profissionais, e desta forma, criar estratégias para a resolução dos seus problemas. A saúde de todos e todas nós será a principal beneficiada.
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