O nível “mais crítico” de desperdício nos hospitais está nas “opções terapêuticas” que devem ser “alvo de decisão política”, disse ontem, no Porto, António Melo Gouveia, diretor do serviço farmacêutico do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa.

“Não podemos cair na ilusão de que o pequeno desperdício, a ampola que não se aproveita ou o soro que vai para o lixo, é onde está o problema. Temos o dever de o combater, mas o verdadeiro problema está nas opções terapêuticas”, salientou à margem de uma sessão do curso “Redução do desperdício nos hospitais”, que decorreu hoje no Porto.

Para o dirigente, “onde pode haver margem para combater eficazmente o desperdício é na análise e na decisão sobre as operações terapêuticas tomadas”.

Este “é um trabalho que tem de ser feito numa lógica multidisciplinar no hospital”, passando pelos médicos “em articulação com os outros profissionais de saúde, e com a comissão de farmácia e terapêutica”.

Independentemente do tratamento, António Gouveia destaca que, no limite, “a decisão sobre opções terapêuticas que a sociedade pode suportar tem de vir do governo” e a “racionalidade terapêutica tem de ser alvo de decisão política.”

“Entre duas opções terapêuticas, com resultados em saúde que não são profundamente diferentes, alguém tem de decidir se queremos pagar o custo de uma delas indiferentemente ou apenas daquela que é mais economicamente conservadora”, sustentou.

O dirigente assegurou que “não está em causa que haja medicamentos que estão a ser usados quando não deviam”, mas sim é “se a eficácia tida é suficientemente melhor que a de outros [medicamentos] que já existem e que justifique o investimento”.

Esta é uma opinião partilhada por Armando Alcobia Martins, diretor dos Serviços Farmacêuticos do Hospital Garcia de Orta que também participou na sessão, para quem “se não houver dinheiro para tudo, temos que assumir escolhas” e compete ao Estado decidir.

Em todo o caso, frisou, “o desperdício não é só nos hospitais, decorre de todas as atividades”, podendo ser considerado desperdício sempre que se utiliza um medicamento “e dele não resulta o efeito esperado”.

“Aí não há muito a fazer sem ser otimizar protocolos e esperar que os medicamentos utilizados sejam os mais efetivos. Se tivermos sinais que nos indiquem que determinados doentes vão responder a um medicamento, aí diminuímos o desperdício associado a esses medicamentos”, explicou.

16 de fevereiro de 2012

@Lusa