Os reservatórios do vírus da Sida no corpo humano têm sido a principal barreira na descoberta de uma cura para a infeção. O vírus esconde-se em locais inacessíveis a terapias antirretrovirais, não permitindo a sua inativação no organismo.
Nesses reservatórios, o vírus vai aguardado, num estado de latência, a primeira oportunidade para voltar a atacar o corpo humano. Geralmente fá-lo quando há falhas no sistema imunitário.
Agora, uma equipa de investigadores do Laboratório Morgane Bomsel, do Centro Nacional Francês para a Investigação Científica, descobriu exatamente onde é que esse vírus se pode esconder no pénis humano. O artigo científico foi publicado no mês passado na revista Nature. A notícia é avançada pelo jornal Público.
A equipa analisou 20 pénis e descobriu que o principal reservatório de VIH na uretra está nas células do sistema imunitário denominadas macrófagos - e não nos linfócitos T. Os macrófagos são células de grandes dimensões dos glóbulos brancos que respondem a infeções. Já se sabia que o vírus se escondia nestas células na zona do cérebro e fígado, mas não na uretra.
Os investigadores analisaram ao pormenor a anatomia de 20 pénis de indivíduos que passaram por uma cirurgia de mudança de sexo, alguns deles infetados com o vírus da Sida. Confirmada a presença de reservatórios VIH nos macrófagos da uretra, a equipa de investigadores também confirmou que o vírus ali adormecido pode despertar do seu estado latente e multiplicar-se, promovendo uma maior carga viral do VIH no organismo.
Quando olharam para os tecidos das uretras cedidas por seropositivos que fizeram tratamento anti-retroviral por longos períodos de tempo, por isso, apresentavam cargas virais suprimidas, os cientistas constaram que os reservatórios de VIH existiam apenas nos macrófagos e não se conseguia encontrar vestígios do vírus nos linfócitos-T, as células alvo da maioria das investigações sobre a doença.
"Descobrimos que o VIH forma reservatórios virais em macrófagos da mucosa da uretra masculina de indivíduos virologicamente suprimidos pela terapia anti-retroviral combinada, estabelecendo no macrófago o principal nicho de persistência viral na uretra", esclarece Fernando Real, investigador brasileiro e um dos autores do estudo, citado pelo jornal Público.
O objetivo agora será criar tratamentos que despertem estes reservatórios para, em seguida, os eliminar. No entanto, não será isso que esta equipa francesa irá, para já fazer: "Queremos encontrar um marcador, uma proteína ou fator específico, expresso exclusivamente nesses macrófagos reservatórios do VIH. Se encontrarmos essa marca definidora, podemos treinar o sistema imunológico a identificar, rastrear e destruir o macrófago reservatório especificamente", referiu Fernando Real ao referido jornal.
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